Daniele Vilela Cardoso Leite*
Por zelo, amor excessivo, medo de traumatizar ou por ser o mais prático, os pais se tornam permissivos e infelizmente a conseqüência compromete o desenvolvimento da criança. Oferecer limite é trabalhoso, cansativo e requer bom senso e assertividade.
Existem linhas de referência para conduta dos pais baseadas em estudos sobre a psique humana, e que interpretam de formas variadas a conduta adequada junto aos filhos. Há determinada linha de influência behaviorista, ou seja, que defende que a criança é altamente condicionável e deve ser tratada segundo essa percepção. É um raciocínio que atualmente está “na moda”, principalmente através de livros como “ A Encantadora de Bebês”, “ Nana Nenê”, entre outros. E há correntes que defendem a compreensão do universo infantil para que o limite seja inserido de forma menos impositiva.
Ao estudar, analisar e observar as tendências, a conclusão é de que cada criança é singular e vai necessitar de ajuda específica. Inclusive filhos do mesmo casal requerem posturas diferentes dos pais. A natureza é rica e nesse sentido não segue padrão definido. Há crianças que solicitam postura mais enérgica. Outras que são extremamente dóceis e demandam outra direção. É necessário hora condicionar, hora compreender, e assim são construídos os relacionamentos e as personalidades…
Nos tempos antigos as famílias eram numerosas e todos criados da mesma forma. Observa-se que assim como há evolução na tecnologia, na medicina, na engenharia, nas ciências de uma forma geral, há também na questão comportamental, nas inteligências múltiplas. Referências são oferecidas e as singularidades devem ser respeitadas. No entanto às vezes é mais fácil basear nas antigas premissas e tratar todos da mesma forma. Mas energia atrai energia no sentido de que por exemplo não é por acaso que determinada criança estuda em determinada escola. Normalmente são processos de identificação, assim como nos namoros, casamentos, amizades, relacionamentos, no trabalho escolhido, etc. Nesse sentido nada é por acaso. Cada um culmina no lugar em precisa estar, onde cabe estar. Isso é singular. Na verdade todas as linhas de referência educativa são positivas.
Todas são adequadas e até mesmo necessárias em alguns momentos. O momento global no qual estamos mostra que a falta de limite tem trazido consequências terríveis à humanidade. Talvez por isso a “moda” da linha que educa de forma mais incisiva. Interessante fazer tal associação nesse momento da história em que estamos inseridos. As crianças nascem cada vez mais “precocemente” desenvolvidas. Precocemente em nossa referência dos tempos antigos. Ao invés de “precocemente” um termo mias adequado talvez seja “naturalmente”. É a evolução. Como dissemos ela não é apenas material, mas também emocional. Acompanhar tal raciocínio na prática exige flexibilidade, principalmente para as gerações antigas.
Além das evoluções espirituais que denominam as crianças índigo e cristal, os circuitos cerebrais das crianças sofrem influência dois vários e amplos estímulos recebidos diante da modernidade, o que faz com que as transformações sejam cada vez maiores. E a evolução não para. Onde chegaremos? Em termos concretos e emocionais? Presenciamos tamanha evolução e ao mesmo tempo expressivas dificuldades e desafios emocionais. As pessoas espiritualizadas dizem que caminhamos rumo a um mundo melhor, de mais justiça e paz. Os pessimistas só percebem os desafios, não conseguem vislumbrar quantas vantagens em meio a tantas tragédias e dificuldades advindas da vida moderna.
Se formos analisar à luz do raciocínio da cronologia dos acontecimentos provavelmente há muitas surpresas positivas por virem assim como desafios eternos. Aguardemos então com respeito e percepção a individualidade de cada criança que chega ao nosso mundo…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.