Daniele Vilela Cardoso Leite

Crianças Abandonadas Pelas Mães

Daniele Vilela Cardoso Leite*

A figura materna exerce papel fundamental na saúde emocional de um ser humano, juntamente às demais figuras familiares, paternas , fraternas. Dessas primeiras relações advém as experiências que oferecem a base de todas as outras relações interpessoais. No entanto, a vida é fluida e infinitas são as possíveis surpresas que pode trazer a um ser humano. Foi com esse enfoque que a Psicanalista Regina Teixeira da Costa escreveu na coluna “Em Dia Com a Psicanálise”, Jornal Estado de Minas, no dia 18 de janeiro desse corrente ano, a reportagem “Coragem e Superação”.
“A princípio… a teoria psicanalítica atribuiu aos limites da função materna ou a seu fracasso o adoecimento psíquico do filho. Depositou sobre os ombros dela toda a responsabilidade pelas conseqüências da criação, esquecendo-se de que a adoção realizada pelo pai, é fundamental para que a criança seja reconhecida, registrada e valorizada. …Hoje a Psicanálise reconhece a ausência da função paterna tão danosa quanto a colocação da criança como parceira exclusiva da mãe.” E a escritora aborda então que nem sempre crianças com estruturas difíceis necessariamente se saem mal na vida. “… ninguém pode prever o futuro daquele bebê abandonado na Lagoa da Pampulha. Mas sabemos que muita gente sofrida deu certo na vida”.
“A minissérie sobre a cantora Maysa (exibida pela Rede Globo no início do ano) macula o sagrado e idealizado do amor mãe-filho. Todos somos filhos de uma mãe biológica, imprescindível até o nascimento. Depois de nascidos, se houver alguém eficiente em seu lugar, sobrevivemos. Qualquer pessoa pode fazer a maternagem, e, depois de adultos, precisamos nos tornar psicologicamente independentes da mãe”. “Jayme Monjardim, filho da cantora e diretor da minissérie, apesar do sofrimento causado pela ausência de Maysa, não ficou impedido de chegar onde chegou. Ele tinha um bom pai e avós que cuidaram dele em seus primeiros anos, antes de ir para a Europa com a mãe e morar no internato na Espanha onde estudou dos 8 aos 17 anos”.
Ao presenciar uma criança crescer sem a presença da mãe biológica, ao invés de se perceber repleto de compaixão como tantas pessoas fazem, transforme esse dó em ondas pensamentos (que gerem sentimentos, pois não basta pensar, é necessário sentir) tais como “é possível sobreviver, transcender e vencer”. Os preconceitos aparecem sob variadas nuances, às vezes sutis e sempre cruéis. Mas existem forças maiores e que muitas vezes surpreendem, e mostram que os preconceitos refletem sentimentos e pensamentos equivocados, que cairão por terra algum dia, em algum momento…

*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.