Daniele Vilela Cardoso Leite*
No desenvolvimento da personalidade, a infância é marcada pela formação das estruturas psíquicas a partir das figuras parentais. Há uma dependência profunda, física e mental. A adolescência é um período em que é iniciado um processo de independência e a vida adulta é marcada pela autonomia, mas sempre com referência nas fontes estruturantes. A família é o alicerce, a estrutura, e embora em cada fase as relações sejam singulares, os laços são eternos e intransferíveis. É necessário que exista independência, crescimento, evolução, mas isso não implica em abandono, e sim em autonomia. Por tudo isso em momentos difíceis geralmente é na família que surge o apoio. Como diz o ditado popular “uma mão lava a outra”.
Cuidar de um familiar doente desenvolve a sabedoria, amplia a consciência, é uma ato de doação mas que exige sabedoria para que o cuidador não adoeça também ou não se torne um co-dependente. São chamados co-dependentes indivíduos que direcionam a outros seu universo psíquico ao invés de investirem em si mesmos. Não olham para si, não são capazes de se ocuparem com suas próprias questões em função de se preocuparem com as questões do outro. Mas co-dependências a parte, o fato é que a vida é feita de surpresas que podem ser agradáveis ou desagradáveis, e as pessoas podem ser pegas de surpresa em situações quase inacreditáveis de casos de doenças em familiares amados. Isso mostra “a existência” solicitando entrega, presença, aprendizagem. É preciso fé e sabedoria para lidar com a situação, pois caso contrário pode ser que ao invés da almejada saúde, a doença predomine no corpo e mente de todos. É preciso escutar o que realmente a vida solicita naquele momento.
As missões não vem por acaso. Há por parte de estudiosos do assunto dicas úteis a quem é cuidador: Fique atento aos sinais: – aumento de estresse – redução do tempo livre – esgotamento físico e psíquico – mal-estar sem causa aparente. Estratégias sugeridas: – pedir ajuda (procurar apoio) – colocar limites – cuidar da sua saúde – organizar o tempo – regular as emoções (inteligência emocional), descansar – encontrar tempo para si mesmo – planejar o futuro. Não é inteligente cuidar de forma tão incondicional a ponto de esquecer de si. O doente precisa de alguém com energia e ânimo para apoiá-lo, independente do grau de gravidade da doença. Caso o cuidador não se cuide, não terá tal força para feito e serão mais pessoas doentes e desgostosas. Independente do resultado final, a recuperação ou a morte, enquanto há vida é preciso que se busque o máximo de qualidade, e se o cuidador não busca ajuda e apoio se estiver difícil de lidar sozinho na situação, o prognóstico torna-se desfavorável. Já diria o Sábio dos Sábios, “Ame ao teu próximo como a ti mesmo”. Como cuidar do outro sem cuidar de si? E vice versa, há muito a oferecer para alguém fragilizado pela doença. Além de todos os cuidados, não há remédio maior que o amor, o único capaz de transformar situações quase irreversíveis em melhorias inacreditáveis. Outro pilar estrutural para lidar com tais situações é a aceitação. Sem ela as dificuldades se potencializam… Como já diria o sábio Jung “Tudo a que se resiste, persiste”…. Em casos de tsunamis, salvam-se os que tem coragem de se entregar…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.