Daniele Vilela Cardoso Leite*
A postura dos pais e cuidadores diante dos desafios do processo de individuação irá influenciar diretamente na forma como os filhos se posicionarão diante da vida. “Entende-se por individuação um processo de tornar-se a si mesmo, que leva a pessoa a realização máxima de seus potenciais inatos. Individuação não significa auto realização egoísta; pelo contrário, liga o ser humano à sua camada mais profunda fazendo com que leve a sério a interligação com relações socioculturais. O processo coincide com a crescente conscientização sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre os efeitos recíprocos correspondentes” – (Amman, Ruth – A Terapia do Jogo de Areia).
Filhos criados diante da mesma referência irão reagir de forma singular, mas todos, cada um a sua maneira, irão reagir de acordo com as referências recebidas. Ser criança e crescer não é fácil. Surgem novos desafios a cada instante. A forma como os pais se posicionarem em relação aos mais diversificados acontecimentos determinará sobre as respostas dadas pelos filhos e os posicionamentos dos mesmos diante da vida. É claro que evitar a dor de um filho é papel de cada genitor. No entanto quando forças maiores entram em ação e os filhos passam por desafios, e mesmos os naturais de cada etapa de desenvolvimento, a postura dos pais de coragem e maturidade pode “salvar” o filho. Diferente de evitar a dor e superproteger a criança. Essa é uma tendência de muitos, às vezes inclusive sem consciência, sem perceber…
Ao tornar-se pai e mãe a necessidade de aceitar a vida como é torna-se mais incisiva. Tal postura interferirá diretamente nas novas vidas que surgem. Daí escutarmos que tornar-se pai e mãe é uma grande motivação para se melhorar como ser humano (desde que se tenha consciência de todas essas ligações e responsabilidades). Não aceitar os limites e a condição humana atrapalha na criação de uma criança, pois estabelecer e deixar a vida colocar os limites torna-se doloroso demais. É preciso pró atividade e resiliência. É necessário o espírito de reagir de forma positiva e madura. Seguir em frente, aconteça o que acontecer… diante de tais conceitos como referência o processo torna-se mais produtivo e fluido. Sentir compaixão, paralisar na emoção, revoltar e não sair da revolta são reações diante dos desafios que não irão fazer bem ao filho. Os pais buscarem reagir e superar os desafios é o primeiro passo rumo ao sucesso e fará toda a diferença na formação da personalidade da criança. Assim também ela reagirá. E vice versa. Se percebe os pais revoltados, irritados, paralisados, assim será o exemplo recebido e reproduzido.
Há desafios extremamente duros. Mas a elaboração das emoções é necessária. É a saída. Aceitação e coragem irão interferir no grau de superação de cada desafio surgido. É doloroso demais a dor do filho. Mas é também extremamente gratificante presenciar as superações, vitórias, sucessos. Que vem do espírito de força, fé e determinação. A maior herança que os pais podem deixar é essa: coragem, força, fé, perseverança. Noção da postura que a vida solicita para que tudo dê certo…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.