Daniele Vilela Cardoso Leite*
Uma discussão atual que visa definir os melhores rumos para apoiar, ajudar e tratar usuários e dependentes químicos vem acontecendo entre profissionais que trabalham com tratamento e prevenção ao uso de drogas. O conceito de redução de danos e de abstinência e a aplicabilidade de cada um deles tem divido a opinião de especialistas da área.
Segundo Mônica Gorgulho, “o conceito de Redução de Danos existe há mais de 30 anos. Começou na década de 1980 na Inglaterra e na Holanda quando houve o estouro das epidemias do HIV e das hepatites. Hoje ela está no mundo inteiro. A RD atingia o que se costumava chamar de “grupo de risco”, entre eles os usuários de drogas injetáveis”. O trabalho funcionava com a administração de doses controladas da própria substância., sem a preocupação em primeiro momento de interromper o próprio uso. A RD surgiu como busca de alternativas que não fossem focadas apenas na abstinência, que é o corte absoluto e imediato da substância química abusiva.
O conceito de Redução de Danos como é usado hoje é amplo e segundo a especialista Mônica, prevê também a abstinência, a conscientização, a prevenção, mas de forma programada, organizada, e não focada apenas na abstinência. É preciso, na opinião da Psicologia Social, investir na atenção para as questões dos direitos do indivíduo, que tem sido muito deixadas de lado. E buscar cada vez mais alternativas de tratamentos mais eficazes, que levem mais em consideração a singularidade que existe em cada caso.
A desconsideração dessas singularidades leva a frustrações e insucessos nos tratamentos. Nas palavras de Mônica “É caro à Psicologia pensar que nem toda relação com a substância significa uma doença que precisa ser tratada e um sintoma que precisa ser erradicado. A Psicologia traz essa contribuição, diferentemente da Psiquiatria, que é a de ampliar o olhar e o conhecimento, a compreensão sobre o comportamento daquele indivíduo. Os modelos médicos tratam dependências de todo mundo como se fossem uma coisa só, o mesmo para todas as pessoas. A Psicologia tem essa facilidade de individualizar esse olhar através do comportamento, conclui ela. Psicologia e Psiquiatria são ciências que se complementam. Cada uma foca por um ângulo o problema, e devem ser vivenciadas com essa visão de complementariedade, não só no que diz respeito ao tema do uso e abuso de drogas, como de uma forma geral. Quanto a discussão anterior, o especialista Sérgio Eduardo S Vieira defende uma perspectiva integrada, que combine ações de Redução de Danos com bons projetos voltados à abstinência, enquanto norteamento para o trabalho com dependentes.
Diante da pergunta : Qual a perspectiva de evolução das iniciativas de redução de danos e de abstinência no Brasil?, feita a ele pela equipe da revista “Diálogos”, Conselho Federal e Regional de Psicologia, a resposta foi que qualquer perspectiva será positiva e crescente, desde que redução de danos ou abstinência não fiquem separadas entre si. Enquanto o crime organizado se especializa cada vez mais, segmentos da sociedade, profissionais especializados, e equipes responsáveis pela estruturação e execução de políticas públicas também estão em plena atividade. O último número da Revista Diálogos- Psicologia Ciência e Profissão, trouxe ótimas entrevistas, inclusive na íntegra as falas dos profissionais citados nesse artigo.
Até a próxima!!!!
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.