Daniele Vilela Cardoso Leite*
A história de Tom-Tom, uma criança de 5 anos, é contada por um verdadeiro educador. “Tom-Tom tem cinco anos e chega desesperado todos os dias. Bate num, chuta o outro, empurra a mesa, chora desamparado quando por fim recebe um soco ? de algum maior ? de volta.
Nas primeiras semanas de trabalho, para poder controlá-lo, tive que andar de mãos dadas com Tom-Tom e, na maioria das vezes, com ele nos braços: “encangado na cintura”. ? Tom-Tom vem cá. Você agora é o meu boneco Fom-Fom. Toda vez que você vier para o meu colo, você vai virar o meu boneco. E o meu boneco vai me ajudar! Logo você, que eu sei que sabe fazer tantas coisas! Vamos, vem logo! E, veloz como um macaco, subia, “encangava na cintura”.
No meu colo, ele dava papel para outras crianças, dava lápis, agradava meu cabelo… E às vezes também brigava mesmo lá de cima! ?Tom-Tom, você esqueceu que você aqui (no colo) é o meu boneco Fom-Fom?! No ato parava e continuava me ajudando.
Só no colo, junto do afeto, Tom-Tom acalmava. Foi vivendo este outro lado bom, do “boneco” que era querido, que ajudava a mim e aos outros, que “Tom-tom foi descobrindo um outro jeito de ser. Ao mesmo tempo, explorei de tudo que fazia para mostrar-lhe que podia virar outra coisa. Enquanto amassava todas as folhas de papel que encontrava, propus-lhe que fizéssemos bolos de vários tamanhos, para servirmos depois. De tudo que destruía, eu transformava numa atitude construtiva.
Com o grupo procurei atiçar a descoberta do Tom-Tom “trabalhador”, cooperativo, chamando a atenção para sua força enquanto carregava uma das nossas pilhas de tijolos da casinha. Também trabalhei com os pais no sentido de verem o outro Tom-Tom (o pai foi um dia conversar comigo para dizer-me que, se precisasse, podia dar uns tapas no Tom) e em todas as ocasiões em que Tom-Tom conseguia produzir, trabalhar, mandei bilhetes salientando o que havia conquistado.
Certo dia, na hora do recreio, gritos chamando por mim; corro. Chego e deparo com Tom-Tom com um caco de vidro na mão, pensando; pronto para atirá-lo numa das crianças. Perco a cabeça e grito-lhe: -Tom-Tom, jogue já esse vidro no chão ou senão pode ir embora e não volta mais nessa escola!
Parado com o braço levantado, o vidro na mão, pensando, parecia que via um videoteipe de sua vida conosco. Momento de dúvida, de avaliação. E, de repente, num gesto brusco, rápido, jogou o vidro no chão. Abracei-o, carreguei-o no colo, gritei para todo mundo: -Tom-Tom vai ficar nesta escola! Trabalhar nesta escola, ficar com a gente! (optou por nós). Ele rindo, abraçado, encangado na cintura”, brilhando pelo salão… “Muitos pais batem no filho, porque a criança bateu no irmão. Muitos gritam para o filho falar mais baixo. Muitos pais agridem a criança porque esta agrediu alguém. E a situação, claro, ao invés de melhorar só piora.
É trazendo à tona a luz, o que ela tem de bom, que surgem os resultados positivos. Se a criança apresenta uma postura indesejada, é porque sozinha, não consegue responder de outra maneira. O que ela precisa é de limite e afeto, como fez o professor de Tom-Tom e como todos os educadores (pais etc.) podem e devem fazer. Para isso é necessário estarem sempre abertos aos seus processos emocionais e espirituais. Estarem em constante evolução…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.