Daniele Vilela Cardoso Leite*
“Limitar é ensinar a tolerar frustrações. É prevenir para que no futuro, uma dificuldade qualquer não se transforme em uma barreira intransponível”. Esse parágrafo foi escrito por Edina de Paula Bonsucesso em seu livro “Afeto e Limite”. Edina é conhecida em vários países, principalmente Japão, o que muito nos alegra, principalmente por ela ser caeteense.
Irei compartilhar com você, leitor, alguns dos principais pontos do referido livro, que é referência interessante na reflexão sobre a criação dos filhos. Ela comente que ?se você satisfaz a todas as vontades de seu filho, ele esperará que, pela vida afora, as demais pessoas ajam de forma idêntica?, e a realidade não é essa.
É nítido como os jovens dessa geração estão sem limites. Dirigem em alta velocidade, e o índice de mortalidade devido à essa inconsequência é assustador. A agressividade beira o absurdo de atearem fogo em um índio, espancarem uma cidadã e ainda terem a infelicidade de dizer que pensavam ser uma prostituta; baterem uns nos outros de forma desumana, matarem colegas, professores e suicidarem, entre vários outros absurdos.
Que a adolescência é caracterizada por uma certa inconsequência, é natural. Mas tudo tem limite e as atitudes de nossos jovens demonstram que é justamente o que está faltando. A frustração faz parte da história humana. Só de estar na condição de ser humano já instaura-se aí a realidade de que haverá frustração. E nossa cultura do mundo moderno evita a todo custo a frustração. E o resultado são os abusos absurdos que temos presenciado, inclusive nas mais variadas idades.
O ser humano PEDE limite. Edina oferece dicas interessantes aos pais: -Dizer ‘sim’ sempre que possível e ‘não’ quando necessário, eis a melhor forma de ser amigo dos filhos. “Para os Pais que não estabeleceram limites na infância e desejam fazê-lo na adolescência, o melhor é começar tendo uma longa conversa com os filhos. É importante explanar as modificações e revisões que planejam introduzir na vida familiar”. Em relação a como colocar o limite, ela diz: “- Fazendo com que tenham direitos e deveres. -Estabelecendo, à medida em que crescem, mais e novas tarefas que lhes mostrem que a família os considera capazes de assumir responsabilidades. -Estabelecendo regras democráticas e justas de convivência. -Fixando limites sempre que necessário, mas apenas então. -Tornando-os co-participantes de decisões e medidas que afetam toda a família. -Ouvindo suas opiniões e consultando-os sobre algum problema que esteja ocorrendo na família. -Chamando-os a colaborar toda vez que a família se envolver em causas sociais”.
Nossas crianças e jovens estão pedindo este tipo de atitude por parte dos educares, através de suas posturas e atos. Cabe ao adulto agir de forma adequada. Em primeiro lugar tem que haver conscientização da importância do limite. E depois a disposição para colocá-lo. As vezes é mais fácil deixar acontecer, pois dá trabalho oferecer resistência aos desejos dos filhos. Muitos pais cedem às pressões. Outros não aceitam que a vida é assim, não aceitam ser frustrados e reproduzem, às vezes até de maneira um pouco sutilizada, isso para os filhos. Muitos são ambiciosos e desafiam tudo em nome de determinadas conquistas, passam por cima de valores estruturais, e depois as conseqüências surgem.
Afeto e limite são referências adequadas para quem reflete e pensa sobre seus atos enquanto pais e educadores. É o que todos precisam. É uma demanda humana. A referência do afeto e limite é uma dica imprescindível para quem quer acertar ao conduzir a educação de uma criatura humana. Partindo desse princípio, tudo tende a dar muito mais certo…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.