Daniele Vilela Cardoso Leite*
O sonho possui um papel essencial para a saúde emocional do ser humano. É uma das principais “válvulas de escape”, sem a qual adoeceríamos, enlouqueceríamos. Nossa energia psíquica necessita de canais de liberação. Caso contrário há explosões e saídas inadequadas (doenças físicas e psíquicas). O sonho é a principal via de acesso ao inconsciente. Chorar, praticar exercícios, trabalhar, produzir, escrever, conversar, brincar, dançar, todos são canais de liberação de energia psíquica.
Alguns canais são mais amplos e por isso apresentam capacidade de oferecer “maior vazão”. Sonhar é um desses. Em sonho tudo acontece: mortes, ressurreições, traições, reconciliações, violência etc. Dessa forma as elaborações emocionais vão sendo preparadas para que em algum momento possam virar conscientes e assim se libertarem. Tal liberdade seria a resolução de um problema. Há sonhos que não chegam a esse patamar e nunca são lembrados, pois o consciente “não aguentaria”. Por exemplo pode ocorrer de matarmos alguém no sonho, mas nosso pudor não permitir que lembrássemos. A censura interna não aguentaria, não suportaria a verdade que realmente gostaríamos de matar alguém. No entanto quando o inconsciente vira consciente é um grande alívio no sentido de integrar algo que era reprimido. O inconsciente precisa virar consciente para haver integração das energias psíquicas. É assim que ocorrem as evoluções.
Esse é um processo natural da vida, e que a análise apenas acelera (e com isso muitas histórias são mudadas). Processos analíticos “resolvem” questões que poderiam levar décadas para transcenderem. Quando um indivíduo lembra um sonho e o associa à vigília, percebe relações entre sua história pessoal e onírica, grandes insights ocorrem. O processo analítico explora tal relação e alcança mudanças estruturais.
Há várias situações em que as pessoas tem consciência de seus erros mas não consegue mudar. Em tais circunstâncias trazer o inconsciente à tona é o caminho científico adequado e eficaz. Quando o indivíduo racionalmente sabe o que deve fazer mas não consegue , uma via de acesso à transformação é a interpretação dos sonhos. No livro “Somos Feitos da Matéria dos Sonhos”, o autor, Carlos Alberto Corrêa Salles, aproveita a frase Shakesperiana e a transforma no título do livro. Shakespeare, A Tempestade, ato VI, diz :“ Somos feitos da mesma matéria que os sonhos”.
Perceber os sonhos e associá-los à nossa vida é atitude dos sábios. Além do que é cientificamente comprovado a veracidade das associações. É ciência!!! Portanto é ignorância desconsiderar tal universo… É inteligente considerar o sonho importante, essencial, transformador…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.