Daniele Vilela Cardoso Leite*
Caro leitor, compartilho com você interessantes visões sobre a 3ª idade, o avançar do tempo. Virgínia E. S. Martins Costa, Psicóloga e Gestalt Terapeuta, aborda o tema no trabalho “Vivescendo”, apresentado em curso destinado a estudantes e Psicólogos. Seguem as reflexões:
“A filosofia tem ensinado que as pessoas são mais afetadas pelas suas opiniões sobre as coisas do que propriamente pelas coisas mesmas. Com base nisso pode-se afirmar que envelhecer é aprender uma outra forma de se viver. No fluxo do existir os acontecimentos vivem mudando de sentido, passando até mesmo de um significado para o seu oposto. O que era ignorado passa a ter um significado com o conhecimento. Enfatizamos o envelhecer como mais uma etapa que possui suas especificidades. As pessoas não envelhecem todas da mesma maneira. A partir dos fatores genéticos que determinam muito do processo, é preciso realçar que não é igual o envelhecer no feminino ou no masculino, ou no seio da família, casado, solteiro, viúvo ou divorciado, com filhos ou sem filhos, no meio urbano ou no meio rural, na faina do mar ou na intelectualidade das profissões culturais, no seu país de origem ou no estrangeiro, ativo ou inativo.”
Muitas didáticas têm surgido para serem trabalhadas com a 3ª idade e uma delas se refere às sete dimensões existenciais (que servem de referência para reflexões não só para a terceira idade, mas para todas as fases e idades da vida). Segundo Romero, em seu livro O Inquilino do Imaginário, as sete dimensões existenciais são: a dimensão corporal (imagem corporal e aspecto primário da consciência de si), a interpessoal (o juízo do outro como fator do próprio juízo), a da práxis (a consciência de si por via da atividade e fonte de contato com habilidades e poderes pessoais que interferem na auto estima), axiológica (valores internalizados de acordo com o grupo de inserção), a motivacional (vetor e tendências que orientam o sujeito como fonte energética), espaço temporal (percurso histórico biográfico ao longo do qual se constitui a trama da identidade), afetiva (a consciência dos atributos pessoais em forma de constantes afetivas). Um idoso que possui a chance de refletir sobre esses aspectos de sua vida, principalmente quando trabalhados em grupo, certamente terá uma qualidade de vida diferenciada.
Inauguramos em Caeté, no dia do aniversário da cidade, mais um “Centro de Convivência para Idosos”. O setor da terceira idade é um segmento de mercado fértil, e quem lucra são os idosos, pois os trabalhos e os recursos vão progressivamente aumentando, ainda que muito devagar, como podemos observar aqui no Brasil. Mas, aos poucos, idéias em relação às melhores formas de lidar com a questão surgem e a realidade se transforma devido à pressão da demanda existente. Um geriatra em Caeté é algo imprescindível e, certamente, em futuro próximo, uma realidade. O idoso de hoje possui mais oportunidades. Na palavra de Binswanger “existem três aspectos simultâneos do mundo, que são: o circundante, que requer adaptação e ajustamento, o humano, que se concretiza na relação ou nas influências recíprocas entre as pessoas, e o próprio que se caracteriza pelo pensamento e transcendência da situação imediata”.
É preciso trabalhar esses aspectos de forma respeitosa mas com ações voltadas a esses tópicos. Isso exige do idoso a capacidade de criar. A criatividade é uma saída que o ser humano possui (em relação a qualquer desafio, problema, inclusive o da idade) e tem que exercer em todas as etapas da vida. O mundo de hoje explora com mais abertura essa saída e essa exigência. Sim, exigência, pois a criatividade é condição ímpar para o êxito e superação de qualquer desafio. Enquanto existir vida existe a possibilidade de criar. E enquanto a possibilidade de criar for real e estimulada existe a esperança da superação dos mais variados desafios.
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.