Daniele Vilela Cardoso Leite*
É tendência do ser humano negar e esconder defeitos, falhas, pontos negativos e a melhorar, pontos fracos. Com isso, tal realidade torna-se inconsciente. A Psicanálise Freudiana diria que essa tendência se inicia quando na infância os desejos da criança não podem ser aceitos e vividos, como o desejo primordial normalmente pelo genitor do sexo oposto e a raiva do outro membro do casal. Tais sentimentos são reprimidos e tornam-se inconscientes. Emergem mais tarde em forma de sintoma.
Mas fato é que a sombra, parte reprimida por não ser compatível aos valores éticos , morais e religiosos é reprimida, vira inconsciente e traz a neurose. Pode chegar até o consciente ou não. Para minimizarmos os efeitos da neurose, o caminho é a integração da sombra. Essa integração seria a consciência das fraquezas, pontos negativos, sentimentos baixos e reprimidos. Às vezes nem imaginados pelo sujeito, mas descobertos através da interpretação dos sonhos, do autoconhecimento, da coragem de direcionar um olhar ao que não seja bem visto. Portanto quanto mais repressão, mais neurose. E quanto mais integração, mais saúde mental, emocional.
Integrar é trazer a consciência, misturar, juntar. A sombra não é apenas maléfica e feia. Ela é também produtiva, criativa, libertadora. Por isso pessoas repressoras em excesso levam à doença, a neurose. Neurose é cisão. Separação. Saúde mental vem da aceitação, integração. Rigidez em excesso traz neurose em excesso. Tal consciência é muito importante, pois a repressão faz parte do processo educativo e da vida em comunidade. Certos instintos tem que ser reprimidos, pois caso contrário não existiria convívio. Isso torna a condição humana por si só limitada e neurótica. Mas o desafio é administrar tal condição e adaptar à realidade, pois é também essa condição que nos permite evoluir, crescer, lutar pela vida, individuar. Ou seja, nos tornarmos nós mesmos, sermos fiéis à nossa essência, as nossas vocações, potenciais etc. “Entende-se por individuação um processo de tornar-se a si mesmo, que leva a pessoa a realização máxima de seus potenciais inatos. Individuação não significa auto realização egoísta; pelo contrário, liga o ser humano com sua camada profunda fazendo com que leve a sério a interligação com relações socioculturais”.
Pais extremamente rígidos não educam de forma adequada. É preciso levar em consideração as fases de desenvolvimento da criança para reprimir certos desejos e atitudes. Crianças amadurecem à medida que crescem, e cada época demanda novas atitudes dos pais. Por isso para educar é necessário prestar atenção aos processos. Reprimir demais castra, anula, poda, impede o desabrochar, o desenvolver. Isso não significa liberar totalmente ou ser permissivo. Indica sim necessidade de adequação.
Cada indivíduo nasce com suas predisposições e exigirá singularidade no trato. Não há portanto receita. Mas há referência, e esta para os pais é de que repressão é necessária, tem seu papel, mas não deve ser exagerada. E a referência aos adultos é a importância do autoconhecimento, da consciência e aceitação da sombra. Ter tais referências como padrão ajuda certamente para a diminuição da condição da neurose. Para que sejamos menos neuróticos, que á a nossa condição básica, caminhemos rumo à integração!!!!
Presenciamos ao longo da história radicalismos. Eras de repressão exagerada. E períodos opostos de muita permissividade. Não é o caminho. O equilíbrio é a referência, assim como especialmente a integração…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.