Daniele Vilela Cardoso Leite*
A evolução e o progresso trouxeram transformações em vários âmbitos, e as estruturas no modelo ensino /aprendizagem sofreram profundas transformações. Em tempos remotos era o vestibular uma forma de selecionar os melhores perfis para alcançarem as melhores oportunidades. Hoje quem faz esse papel de seleção é o mercado de trabalho. É o estudo que gera o aprendizado que concebe profissionais bem sucedidos. É óbvio que o professor é quem oferece as referências para o estudo, mas não nos moldes antigos em que ele era o detentor do conhecimento e estava acima de tudo e todos. Hoje o valor do professor vem do conhecimento associado à sabedoria de oferecer as referências adequadas, transmitir da melhor forma os conhecimentos, mas sabendo que cada indivíduo irá aprender de acordo com sua própria capacidade de vivenciar experiências.
No texto “Pedagogia de Projetos”, Lúcia Helena Alvarez Leite comenta em relação aos Projetos desenvolvidos na escola, que “os conteúdos dos projetos deixam de ser um fim em si mesmo e passam a ser meios para ampliar a formação dos alunos e sua interação com a realidade, de forma crítica e dinâmica. Há, também, o rompimento com a concepção de ?neutralidade? dos conteúdos disciplinares , que passam a ganhar significados diversos, a partir das experiências sociais dos alunos.”
É preciso o cuidado de não achar que tudo será interpretativo sem a estrutura de base das matérias, em termos de conteúdo. Aquele conteúdo clássico, com as matérias tradicionais sempre será a base e possui muito valor. Mas achar que o ensino seja apenas isso é algo ultrapassado. O texto de Lúcia cita a perspectiva antiga, que ela chama de compartimentada, e a outra, que ela chama de globalizante e faz as devidas comparações: – ?Enquanto na perspectiva compartimentada o enfoque é fragmentado, centrado na transmissão de conteúdo prontos, na perspectiva globalizante o enfoque é globalizador, centrado na resolução de problemas significativos. Enquanto era conhecimento como acúmulo de fatos e informações isoladas, no modelo globalizante é conhecimento como instrumento para compreensão e possível intervenção na realidade. Enquanto o professor é tido como único informante, tendo o papel de dar respostas certas e cobrar sua memorização, na outra perspectiva o professor intervém no processo de aprendizagem dos alunos, criando situações problematizadoras, introduzindo novas informações, dando condições para que eles avancem em seus esquemas de compreensão da realidade. Enquanto antes o aluno era visto como sujeito dependente, que recebe passivamente o conteúdo transmitido pelo professor, no novo modo o aluno é visto como sujeito ativo que usa sua experiência e conhecimento para resolver problemas. Na perspectiva compartimentada, o conteúdo a ser estudado determina o problema. Na nova visão o problema determina o conteúdo a ser estudado. Na primeira há uma sequência rígida dos conteúdos das disciplinas, com pouca flexibilidade no processo de aprendizagem. Na outra a sequenciação é vista em termos de níveis de abordagem e aprofundamento em relação às possibilidades dos alunos. Na primeira, propõe receita de modelos prontos, reforçando a repetição e o treino. Na globalizante, propõe atividades abertas, dando possibilidade de os alunos estabelecerem suas próprias estratégias.
Enfim, é com abertura às novas possibilidades e às mudanças que todos nós aprendemos e aprenderemos cada vez mais. O aluno que espera um modelo antigo de aprendizado vai se surpreender, e os profissionais que não acompanharem a evolução também irão se frustrar. Em compensação, os novos modelos proporcionam evoluções nunca antes imaginadas. Basta olharmos ao nosso redor…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.