Daniele Vilela Cardoso Leite*
Final de ano, fechamento de uma etapa, início de outra. Boa fase para balanços e reflexões. Como foi este ano? O que está bom? O que precisa melhorar?
E agora, uma pergunta inusitada: e quanto ao humor, você se considera bem ou mau humorado? Caso nunca tenha se feito essa pergunta, pode se surpreender com a resposta.
As pessoas se condicionam a determinados tipos de comportamento e por isso nem se percebem . Às vezes estão acostumadas ao mau humor e fazem uma leitura da vida pesada, séria. Muitas são as causas que impedem uma pessoa de ser bem humorada, mas o fato é que com alegria a vida torna-se mais leve, prazerosa. Como diz Max Gheringer, “com bom humor, o difícil fica mais fácil. Além do que, ser mau humorado dá um trabalho…”
Max é uma dessas pessoas que consegue enxergar nos mais variados tipos de situação algum humor, e que ficou famoso por isso. Ele foi a capa da revista Você S. A. deste mês, e falou sobre o humor no trabalho. Contou casos engraçados da época em que era presidente da Pepsi-Cola Engarrafadora. Fez uma associação entre eficiência e humor. Este é um casamento perfeito, pois não basta ser uma pessoa engraçada e bem humorada para ter sucesso e credibilidade no trabalho. Tem que ser eficiente…
Ele percebia também como o clima e o rendimento dentro da empresa eram diferentes no setor gerenciado por chefes bem humorados. Como neste sentido o clima em uma empresa vem “de cima”. E diz: “uma regra e uma dica para quem adota a filosofia do bom humor: a regra para ser bem-humorado no trabalho é a capacidade de rir de si mesmo. Quem se diverte com as próprias mancadas não sofre com o escárnio alheio. Ao contrário, se diverte com ele. A dica: conviver com gente mal-humorada não é fácil, mas, muito mais difícil é conviver com os falsos bem-humorados. Esses, sim, são perigosos, porque usam o bom humor agressivamente, como instrumento de humilhação e opressão. E é fácil identificá-los, porque eles querem tripudiar, mas não aceitam o troco”.
André Comte-Sponville também fala bonito sobre isso em seu livro “O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”: …é ridículo levar-se a sério. Não ter humor é não ter humildade, é não ter lucidez, é não ter leveza, é ser demasiado cheio de si, é estar demasiado enganado acerca de si, é ser demasiado severo ou demasiado agressivo, é quase sempre carecer, com isso, de generosidade, de doçura, de misericórdia… quando é fiel a si, o humor conduz antes à humildade. Não há orgulho sem espírito de seriedade, nem espírito de seriedade, no fundo, sem orgulho”.
Um pensador que valorizava o bom humor e que rendia grandes escritos em torno deste tema foi São Tomás de Aquino (curiosidade… dentre os diversos preconceitos a respeito da Idade Média, um dos mais injustos é o que concebe como uma época que teria ignorado, ou mesmo combatido, o riso e o brincar. Na verdade, o homem medieval é muito mais sensível ao lúdico; convive a cada instante com o riso e a brincadeira). E Comte-Sponville sabiamente nos lembra: humor é diferente de ironia. A ironia não é uma virtude, é uma arma voltada quase sempre para outra pessoa. É o riso do ódio, o riso do combate. Muitos que se acham humoristas não passam de ironistas, de satiristas. Enfim, o bom humor se mistura com a sedução, cria um campo energético leve, atrai o que é bom, é inteligência, postura de vida, sabedoria…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.