Daniele Vilela Cardoso Leite*
O bullying é considerado uma forma de violência contínua que maltrata e traz sofrimento. São vários os tipos de agressões possíveis, tais como a verbal que ocorre através de insultos, colocação de apelidos pejorativos, provocações. A física e material, que ocorre quando o agressor bate, empurra, apropria-se de objetos do outro. A psicológica quando há humilhação, chantagem, difamação, ameaças. A sexual, quando há assédio, abuso, insinuação. Pode ocorrer na escola, no trabalho, na família, em situações variadas em que existam relacionamentos estabelecidos.
As escolas são um espaço que demanda observação mais incisiva devido ao fato dos indivíduos serem crianças e por isso apresentarem mais dificuldade em se defenderem. É papel dos educadores estarem atentos ao bullying. Infelizmente ainda presenciamos omissões nesse sentido. Alguns profissionais não estão atentos e portanto não percebem. Outros têm resistência em tomar atitudes por vários motivos: comodismo, receio da reação das famílias e demais colegas de trabalho, descaso relativo aos sentimentos dos alunos, falta de conhecimento ou noção das conseqüências negativas na vida de uma criança. Há ainda profissionais que acreditam ser natural que crianças coloquem apelidos pejorativos, zombem uns dos outros, etc. Há os que dizem que o sistema é assim, sentem-se impotentes e incapazes de tomar atitudes que são necessárias e indispensáveis.
Há escolas em que o índice de alunos que fazem parte do tráfico de drogas é muito expressivo e amedronta toda a comunidade escolar. Normalmente as vítimas são alunos fragilizados no sentido de inseguros, medrosos, passivos, que não reagem. Os autores são pessoas que de alguma forma sentem-se fortes, e pensam que através da agressividade vencerão sempre. Em grande parte dos casos são de famílias desestruturadas, que não oferecem o limite e usam a violência para solucionar os conflitos naturais da convivência e dos relacionamentos familiares. O prejuízo também ocorre junto as testemunhas, que são alunos que estão inseridos nesse ambiente desarmônico e não deixam de perceber a escola como um ambiente seguro.
Segundo os estudos realizados sobre o assunto, o que leva alguém a cometer bullying, além da falta de limite familiar, é o fato de “carecerem de um modelo de educação que seja capaz de associar a autorrealização com atitudes socialmente produtivas e solidárias. Tais agressores procuram nas ações egoístas e maldosas um meio de adquirir poder e status, e reproduzem os modelos domésticos na sociedade. Outros carecem Existem ainda aqueles que vivenciam dificuldades momentâneas, como a separação traumática dos pais, ausência de recursos financeiros, doenças na família etc. A violência praticada por esses jovens é um fato novo em seu modo de agir e, portanto, circunstancial.” “E, por fim, nos deparamos com a minoria dos opressores, porém a mais perversa. Trata-se de crianças ou adolescentes que apresentam a transgressão como base estrutural de suas personalidades. Falta-lhes o sentimento essencial para o exercício do altruísmo: a empatia. (SILVA, 2010).”
As conseqüências são as mais variadas e dependem do tipo de violência e da rede de apoio afetivo da criança agredida. “Os problemas mais comuns são: desinteresse pela escola; problemas psicossomáticos; problemas comportamentais e psíquicos como transtorno do pânico, depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada, entre outros. O bullying também pode agravar problemas preexistentes, devido ao tempo prolongado de estresse a que a vítima é submetida. Em casos mais graves, podem-se observar quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio. (CONSTANTINI, 2000)”. Enfim, por essa e outras tantas formas de violência hoje presenciadas se faz indispensável implementar projetos nas escolas sobre valores humanos, boa convivência, etc, além do limite aos agressores. O educador precisa ter consciência de que esse é um problema sério e que além disso existem órgãos especializados que recebem denúncia quando os recursos do ambiente escolar forem esgotados. O Conselho Tutelar é um desses possíveis órgãos. O que não pode acontecer é a simples omissão, seja por desconhecimento, medo ou comodismo.
Referência: Google Acadêmico – “O Bullying na Escola: Uma Violência Mascarada”.
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.