Daniele Vilela Cardoso Leite*
Com o nascimento do Menino Jesus, nasce a esperança de um mundo melhor. Assim como a vinda do Cristo, cada criança que nasce é um potencial iminente de melhora (“O nascimento de uma criança é sinal de que Deus não perdeu a esperança nos homens”).
A liberdade do ser humano é essa. Vir à Terra, as crianças vêm. Uma energia maioral as envia, permite que elas perpetuem nossa existência, nos dá chances… Mas essa liberdade nos compele a darmos conta dessas crianças.
Por trás da liberdade existe sempre a responsabilidade. Essas são duas palavras inseparáveis, em qualquer circunstância. O Natal é um ritual da vida, da esperança. É uma data que propicia a reflexão em torno da infância. É uma época que deveria induzir à visão crítica do mundo e do papel de cada pessoa, da responsabilidade individual.
Estamos inseridos no que denomino de desestrutura circular, em que os menores nascem em ambientes impróprios, crescem desestruturadamente. Como consequência desenvolvem uma vida desestruturada. Crescem de forma desfavorável, casam-se e refletem tudo de pessimista no casamento.
Têm filhos que vão nascer neste mesmo ambiente (“…ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”), vão crescer, e a história vai se repetindo. E as pessoas vão se perdendo na impossibilidade de fazer diferente. Este é um movimento cíclico. E é na fraternidade e na convivência que a mudança pode ocorrer. Por isso as pessoas precisam tanto umas das outras. Como se refere a Psicanálise, a mudança passa sempre pelo outro.
Presenciamos ONGs, algumas instituições, pessoas lutando por uma maior igualdade social, possibilitando a quebra dessa desestrutura circular que se estabelece na vida de crianças que nascem e crescem em ambientes ruins. Assim como presenciamos guerras, desigualdades, egoísmo, sede de poder, que reforçam esta desestrutura (é a eterna luta do bem contra o mal…).
A exploração de trabalho da criança e do adolescente pobres no Brasil cresce a cada dia. Com a separação de classes sociais cada vez mais acentuada, em que poucos ganham muitos e muitos ganham pouco. Em que a nossa sociedade fabrica o delinquente juvenil. “Ao invés de recuperar, perverte; ao invés de reintegrar e ressocializar, exclui e marginaliza; ao invés de proteger, estigmatiza”.
Várias são as vezes em que a responsabilidade recai nos políticos. Realmente, tudo passa pela política. Ela está presente desde o relacionamento entre duas pessoas quanto entre dois milhões delas. Tanto em pequenas situações quanto em grandes questões. No entanto, não só os políticos, mas cada indivíduo possui responsabilidade no que concerne as questões sociais do país ou da comunidade. Não só os políticos. A começar pela grande incumbência que a população tem de votar, de elegê-los.
Menino Jesus X Crianças Inocentes. O que eles têm em comum? Uma esperança? Uma injustiça? Uma dor? Você acha que tem algo a ver com tudo isso?
Reflita: Como poderia comemorar a data natalina trabalhando em nome de dias melhores para você e para o mundo? O que pode fazer para quebrar estes círculos desestruturantes?
Pense, que você vai achar uma resposta. Mas pensar é estar apenas na metade do caminho. Para chegar lá, você tem que agir…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.