Daniele Vilela Cardoso Leite*
O desconhecimento ou falta de percepção do que pode acarretar um casamento consanguíneo faz com que não seja incomum presenciarmos filhos com problemas metabólicos, deformidades físicas e/ou mentais. A união consanguínea, ou seja, entre parentes, principalmente entre pais e filhos, irmãos, primos de primeiro ou segundo grau, tios e sobrinhos etc. pode acarretar sérios problemas de saúde à prole.
É algo a ser considerado e relevado. Mas o fato não é via de regra. Pode ocorrer de parentes próximos serem casados e os filhos não apresentarem desvios, disfunções ou doenças. Mas a probabilidade não é irrelevante. Podem ocorrer anomalias pela possibilidade de existirem genes recessivos, que precisam estar em dose dupla para que exista no indivíduo a característica a qual determinam. “Para manifestação de uma característica recessiva é preciso receber o gene do cromossomo de origem materna e o de origem paterna. Portanto o efeito nocivo do casamento consanguíneo é aumentar muito as chances de surgirem descendentes afetados por anomalias raras.”
Esse fato possui embasamento genético, científico. Portanto não é prudente que pessoas da mesma família gerem filhos. Essa realidade fica muito explícita ao analisarmos escolas e clínicas que realizam diagnósticos multidisciplinares. O número de crianças filhas de parentes é grande. Na prática observa-se que o fato ocorre nas mais variadas classes sociais. Faltam campanhas educativas que conscientizem sobre as possíveis conseqüências desse tipo de união. É preciso estar sempre lembrando às pessoas o grau de dificuldade que pode acontecer. Há os que sabem existir riscos, mas não conhecem realmente os possíveis problemas, e não consideram o fato como deveriam. A paixão, os desejos, o envolvimento, tudo isso supera a noção do perigo.
Antigamente casamentos consanguíneos existiam para que os bens materiais não fossem repartidos entre outras famílias. São as crianças grandes vítimas desse tipo de problema, assim como as conseqüências para os pais também sejam muito difíceis. Surgem os desafios, as culpas (que nem sempre são pertinentes, pois a falta de noção faz com que aconteçam problemas inimagináveis) e a situação não é fácil. Caso aconteça é necessário que a postura seja de enfrentamento do problema, com os suportes profissionais necessários, mas a prevenção, obviamente, é o mais importante. A natureza incentiva a mistura genética, pois ao contrário a probabilidade de patologias é presente. É necessário que haja misturas entre as famílias. Daí a grande multiplicidade de seres.
São várias as campanhas educativas sobre outros temas realizadas pelo Ministério da Saúde, que deve alertar para essa demanda real de conduzir as populações à reflexão sobre as relações consanguíneas que são mais comuns do que possamos imaginar..
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.