Daniele Vilela Cardoso Leite*
Meditar possui sentidos diferentes dependendo da cultura em questão. Em nossa cultura ocidental, o dicionário diz que meditar é pensar, refletir sobre algo. Já na oriental há uma outra maneira de se conceber a meditação. Irei comentar neste artigo sobre a brilhante forma praticada pelos hindus adeptos do Yôga, em especial da linha Swásthya Yôga.
A palavra Swásthya significa auto-suficiência, saúde do corpo e da mente, e Yôga significa união. União consigo mesmo e com o Cosmo. A meditação é uma das partes da aula do Swásthya Yôga, que é técnico e não místico. Quem o pratica, tem uma filosofia de vida saudável. A palavra meditação é tradução do termo sânscrito (que é uma língua morta da Índia) dhyána, e significa exatamente o oposto de pensar. É parar as ondas mentais, esvaziar a mente de pensamentos. Para conseguir meditar é necessário dominar a concentração (dháraná) e a abstração dos sentidos (pratyáhára) .
“A abstração dos sentidos é um fenômeno que todo o mundo já experimentou muitas vezes. Ocorre, por exemplo, quando você está assistindo a uma aula que lhe interessa e não escuta os ruídos circundantes, como uma buzina, uma campainha, pessoas falando. Denominamos pratyáhára consciente quando o fenômeno torna-se voluntário”. A concentração também é aprendida e treinada para se tornar voluntária. A aquisição de uma capacidade de concentração proporciona ao estudante uma capacidade correspondente de aprender melhor.
É este o caminho que possibilita parar as ondas mentais. Um exemplo de exercício de meditação é, em um ambiente calmo, silencioso, arejado, sentar-se com a coluna ereta (para fluir a energia) e acompanhar mentalmente as batidas do seu coração, e não pensar em mais nada. Não analisar, não tentar entender. Apenas escutar, abandonando qualquer espécie de dispersão.
E muitos se perguntarão: para quê parar de pensar? Na verdade a mente recebe estímulos descontrolada e descompensadamente, e quando pára, reabastece de energia todo o seu ser, aumentando a capacidade de equilíbrio, aprendizado, a saúde, o conhecimento do mundo e de si mesmo. Observo que aqui no ocidente existem pessoas com um grande desenvolvimento intuitivo, das faculdades paranormais, e sempre são pessoas que praticam a concentração e a abstração dos sentidos e nem se apercebem disto.
É interessante! Enquanto você está falando, trabalhando, estudando, viajando, divertindo, estará recebendo informações do exterior. Quando cessa tudo, inclusive o turbilhão de pensamentos, há uma inversão no fluxo da percepção. Ao invés dos estímulos irem de fora para dentro, vão de dentro para fora. É daí que vêm a criatividade, os insights (saber o que você já sabia, mas não sabia que sabia), desenvolvimento perceptivo.
Enfim, temos muito o que aprender com os orientais, assim como eles conosco. Ambas as partes só precisam querer, dar abertura, pois com diz Júlio Maran, se você quer que o sol entre em sua casa, abra as janelas…
As informações técnicas deste artigo foram retiradas do livro: “Faça Yôga Antes Que Você Precise”- Mestre DeRose
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.