Daniele Vilela Cardoso Leite

O que fazer ao sentir raiva?

Daniele Vilela Cardoso Leite*

Sentir raiva é natural, da ordem do humano. A questão é o que fazer diante de tal sentimento. Alguns batem, outros matam, outros agridem verbal ou fisicamente. Como é um sentimento que pode ser perigoso e pode suscitar o medo de trazer conseqüências desastrosas, é mais fácil reprimir.
De forma geral nossa cultura diz ser feio sentir raiva, e suprimir é um conselho dado principalmente pelos pais às crianças. Os pais dizem que é ruim sentir a raiva, mas os filhos presenciam adultos constantemente expressando de forma agressiva tal sentimento. Então a mensagem para o universo infantil torna-se dúbia. É como a atitude de bater no filho porque ele agride os coleguinhas na escola. A criança não compreende, pois os pais dizem para não fazer algo que eles mesmos fazem.
Perguntamo-nos então, se não é adequado reprimir, o que fazer quando emergir a raiva. Violet Oaklander , autora do livro “Descobrindo Crianças”, sugere algumas formas de expressar a raiva diferentes de machucar as pessoas ou quebrar as coisas. Segundo ela “rasgar jornal, amassar papel, bater em almofadas, correr em volta do quarteirão, gritar no chuveiro, escrever sobre a raiva, desenhar o sentimento de raiva, entre outras” .
Na verdade, seja adulto ou criança, o importante é canalizar a raiva. Nem reprimir, nem explodir de forma inadequada. Os jornais de todo mundo exploraram nessa semana a notícia de um deputado neonazista grego, que em programa de televisão ao vivo perdeu o controle emocional e diante dos questionamentos de outras deputadas de esquerda sobre sua ética, atirou contra elas um copo de água e partiu para violência física ao vivo na TV.
Presenciamos notícias de tragédias diárias advindas da falta de habilidade para lidar com a raiva. Admitir a raiva liberta e cura. Em consultório de psicologia transformações incríveis ocorrem quando um indivíduo com dificuldade no assunto consegue expressar a raiva e libertar-se dela. Por isso é salientado o quanto as “válvulas de escape” são importantes. São canais de expressão. Fazer caminhadas, atividades físicas, tocar um instrumento, descobrir um hobby, ter momentos de lazer, de descontração. Se o indivíduo apenas trabalha, leva a vida extremamente a sério, sofre de estresse, não consegue relaxar, em algum momento irá agredir ou canalizar de forma inadequada sentimentos tais como a raiva (entre outros).
Um canal que o adulto pode utilizar é a palavra. Mas não a princípio. A primeira reação é emocional, e daí vem o ditado popular de contar até dez ao sentir raiva, antes de falar algo. As patologias surgem dos exageros, da potencialização das emoções. Nesses casos os tratamentos psicológicos são indicados, inclusive como fator preventivo de tragédias e mal entendidos. Enfim, admitir verdadeiramente os sentimentos exige coragem, mas é necessário para libertar.
Como diz Jung “tudo aquilo a que se resiste, persiste”. Portanto admitir e ajudar as crianças a reconhecerem esse sentimento é uma boa forma para começar a lidar com esse lado humano e limitado de todos nós…

*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.