Daniele Vilela Cardoso Leite*
James Hollis comenta oito segredos da alma masculina, em seu livro “Sob a Sombra de Saturno”. Ele se baseia na Psicologia Junguiana e utiliza esta linguagem para se expressar.
O primeiro dos segredos seria que a vida dos homens é tão governada por expectativas restritivas com relação ao papel que devem desempenhar quanto a vida das mulheres. O segundo, que a vida dos homens é basicamente governada pelo medo. O terceiro, que o poder feminino é imenso na organização psíquica dos homens. O quarto, que os homens conluiam-se numa conspiração de silêncio cujo objetivo é reprimir sua verdade emocional. O quinto, é que o ferimento é necessário porque os homens precisam abandonar a Mãe e transcender o complexo materno. O sexto, que a vida dos homens é violenta, porque suas almas foram violadas. O sétimo, que todo homem carrega consigo profundo anseio pelo seu pai e pelos seus Pais tribais. E por último ele diz que, para que os homens fiquem curados, precisam ativar dentro de si o que não receberam do exterior.
Saturno era o perverso deus romano que devorava seus filhos na tentativa de impedi-los de usurpar de seu poder. “Ao longo da história, os homens têm sido psicológica e espiritualmente oprimidos pelo legado saturnino. Sofrendo a corrupção do poder, impulsionados pelo seu medo das mulheres e de dos outros homens, ferindo a si mesmos e aos outros.” Quantos são os homens aniquilados em seus desejos em nome do papel social, em nome de corresponder ao que esperam dele?
No desenvolvimento do menino para se tornar homem, o autor comenta a necessidade dos ritos de passagem. Ele diz: “esses ritos envolvem não apenas a transição das dependências da infância para a auto-suficiência da vida adulta, como também a transmissão de valores, como a qualidade e o caráter da cidadania, e as atitudes e as crenças que ligam a pessoa aos deuses, à sociedade e a si mesma. No entanto esses ritos de passagem definharam e desapareceram há muito tempo. “O rito é um movimento em e para a profundidade. Sem ritos significativos, carregamos a mais dolorosa das feridas da alma ? a vida sem profundidade.”
Esses padrões de passagem (ritos) que a cultura oferecia, e que hoje tem que ser procurado pelo indivíduo, o autor comenta em seis estágios: O primeiro estágio da passagem seria a separação, a separação física dos pais a fim de dar início à separação psicológica. Permanecer no lar, quer literal, quer figurativamente, pode significar continuar criança e renegar o próprio potencial como adulto. Por conseguinte, à vida segue-se necessariamente a morte, e o segundo estágio da passagem é a morte, morte simbólica da dependência infantil. O terceiro seria o renascimento (a crisma dos católicos romanos é um remanescente deste rito histórico). O quarto estágio de iniciação tipicamente envolvia os ensinamentos ( arte, pesca, etc.).
Caracterizaríamos o quinto estágio como a provação. Embora variasse o teor das práticas, exigia-se do jovem aprofundar nos sentimentos que brotavam ao abrir mão do conforto e proteção do lar. A provação, em geral, envolvia alguma forma de isolamento. A essência do ser adulto não só significava que a pessoa já não pode recuar em busca da proteção de terceiros como também que precisa aprender a recorrer aos próprios recursos interiores. No retorno, o último estágio, o jovem já era adulto. Enfim, o assunto é complexo, mas muito interessante. Quem quiser aprofundar nele, não deixe de ler o livro citado neste artigo.
Os homens representam papéis de machistas, duros, rudes, mas na verdade são seres humanos muitas vezes à procura de ser feliz, acertar. O pensamento que “homem que é homem não chora”, e os ranços machistas na verdade apenas oprimem almas que, escondidas, carregam muito mais inseguranças que se possa imaginar.
Temos mesmo é que estarmos sempre nos observando e analisando para não incorporarmos os papéis sociais que não concordamos e não queremos e que tantas nos vezes são impostos! Pois no fundo, somos todos luz, às vezes asfixiada pelos legados que nós mesmos ajudamos a perpetuar. Mas podemos puxar essa luz, acreditando nela, desejando-a, tendo visão sobre nós mesmos e a cultura em que estamos inseridos, seguindo e perpetuando, ou mudando e transformando. O mundo está mudando tão rápido! Observe…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.