Daniele Vilela Cardoso Leite*
Saber que cada indivíduo percebe a vida de maneira absolutamente única retrata a complexidade das relações e do estar no mundo. É curioso observar quando um casal diverge sobre algum fato e ambos dizem: “… Mas é tão óbvio que eu tenho a razão. A opinião correta é a minha!” O que ocorre é que cada um possui sua percepção singular.
Fruto de estudos aprofundados sobre o comportamento humano, o material utilizado em um curso de capacitação profissional enfocou o assunto da seguinte forma: “Quando tenho um primeiro contato com alguém, estou formando as minhas opiniões sobre esta pessoa. Esta primeira impressão, muitas vezes, pode determinar o tipo de relacionamento que vamos ter. Por que isto acontece? Quais variáveis estão incluídas neste processo? Diariamente estamos captando fatos e adquirindo conhecimentos , não apenas através de nossa visão, mas de todos os nossos sentidos. Somos dotados de vários órgãos sensoriais, sensíveis a estímulos de diversas espécies . O olho é sensível à luz. O ouvido , às vibrações do ar. A língua, a certos estímulos químicos. O nariz a estímulos olfativos. Nossos sentidos captam apenas uma parte dos fenômenos físicos, ou seja, o mundo permanece constante, mas a imagem que temos dele se modifica em função do nosso sistema nervoso. Este fato reduz o alcance da experiência humana e introduz diferenças entre o que realmente está acontecendo e nossas experiências em relação a isto. Estas são as nossas restrições neurológicas. Outras duas restrições enfocadas foram as restrições ou filtros sociais e as restrições individuais. Os filtros sociais são todos aqueles a que estamos sujeitos como membros de um sistema social: nossa língua, as influências recebidas em nosso processo educacional, valores, conceitos e preconceitos assimilados dos grupos sociais com os quais convivemos. As restrições individuais são todas as representações que criamos, como seres humanos, baseados em nossa história pessoal, única. Cada ser humano possui um conjunto de experiências, que constitui sua própria história pessoal e que é tão próprio dele como o são suas impressões digitais. Enfim, nossos condicionamentos, a cultura do meio em que vivemos, as experiências que tivemos ao longo de nossa vida, as teorias que fazem parte do arcabouço científico de nossa época, nos induzem a viver e perceber o mundo dentro de determinada visão. “A percepção é que viabiliza o processo de comunicação humana, que, por sua vez, estabelece e mantém o relacionamento interpessoal. Se percebo de forma distorcida, consequentemente, vou elaborar conceitos inadequados e emitir comportamentos não ajustados à situação. Portanto é muito importante termos uma atitude crítica a respeito de nossas percepções, o que nos possibilita mudar, corrigir ou confirmar nossas percepções a respeito de nós mesmos e dos outros”.
“Condições que aumentam a precisão das percepções”
-Auto conhecimento: permite-nos reconhecer nossas próprias limitações e preconceitos.
-Flexibilidade: abertura à aceitação de novas informações e à negociação de nossas impressões.
-Equilíbrio ou ajustamento interno: pessoas em harmonia consigo mesmas, têm melhores condições de aceitar e compreender os outros.”
Num tolo cirou irritação e interjeição.
Num poeta, uma canção
Num sábio, a visão do Universal”
(Hermógenes)
OBS.: Um grande lance da Psicologia é se basear nesse reconhecimento da percepção singular. Por isso, psicólogo não aconselha. O papel é de escutar o indivíduo, pois assim estará ajudando-o a rever as suas percepções, trabalhando consciente e inconsciente.
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.