Daniele Vilela Cardoso Leite

Preconceitos

Daniele Vilela Cardoso Leite*

Eximir-se do preconceito é algo que muitos indivíduos gostariam para que se libertassem, pois a visão preconceituosa conecta, prende e paralisa. Pessoas deixam de se envolver junto a outras, deixam de tirar proveito de várias situações, não crescem, não evoluem e não expandem por preconceito. E geralmente após algum tempo, percebem o quanto poderiam ter pensado, agido e sentido de forma diferente, pois como é dito na linguagem popular, o mundo dá voltas e a vida sempre trás incríveis lições. Os papéis se invertem, e somente então as visões se ampliam.
Posturas preconceituosas impedem o Processo de Individuação, que segundo a Psicologia Junguiana significa “um processo de tornar-se a se mesmo, que leva a pessoa à realização máxima de seus potenciais inatos. Individuação não significa auto-realização egoísta; pelo contrário, liga o ser humano com sua camada profunda fazendo com que leve a sério a interligação com relações socioculturais. O processo coincide com a crescente conscientização sobre si mesmo, o mundo e os efeitos recíprocos correspondentes”. C G. Jung, que “considerava a vida um processo contínuo que exige de tempos em tempos passos de amadurecimento e de adaptação, viu a psique humana sob diversos aspectos, conceitualizando-a de forma correspondente. Desse ponto de vista, o indivíduo sempre é mais do que seu Eu consciente. Ter consciência dos próprios aspectos inconscientes, integrando-os aos poucos, significa fazer jus às exigências da individuação, mas também significa direcionar sua vida final para o eterno vir a ser” (Ammann, Ruth, A Terapia do Jogo de Areia).
O preconceito impede uma fluência dinâmica do processo de individuação na medida em que não permite ao indivíduo vivenciar certas experiências que estão em sua verdadeira essência. Ou então, o que é mais complicado para ser resolvido, quando o preconceito é inconsciente, a pessoa é preconceituosa, mas não sabe, não percebe, não admite, não consegue se ver assim. Exemplos bíblicos, mitológicos, contos de fadas, histórias arquetípicas mostram essa realidade. Arquétipos são ”padrões de representação psicológica . Da mesma forma que existem os instintos, existem predisposições inatas na raça humana para construir representações semelhantes “(Boechat, Paula – Terapia Familiar). É fundamental a percepção de que estamos em interconectividade uns com os outros e com o Todo.
No livro Meditando com os Anjos, a interconectividade é assim expressa “Os fios da vida estão unidos num único tecido. Tudo o que vive está interligado numa teia na qual os significados de cada gesto, pensamento e sentimento vibram e tocam tudo e todos. O que está conectado na Terra é um reflexo das conexões feitas no Céu. Os vínculos de cuidado e respeito que formamos com cada ser criam um tecido de amor coerente e forte. A síntese de nossas diferenças e da bela diversidade que formamos é a realidade da nossa interconectividade”. Como diz o ditado popular: “Quem tem telhado de vidro não joga pedra no do vizinho”…

*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.