Daniele Vilela Cardoso Leite*
Os meios de comunicação apresentam, com frequência, policiais em relato de que a maioria dos acidentes de trânsito são causados por imprudência dos motoristas. Nem tanto falhas mecânicas, mas o que falta, além de estradas decentes compatíveis com a evolução e o aumento do número de carros, é a prudência necessária. A prudência previne, zela, perpetua, cuida, conduz ao discernimento.
Discernimento é, segundo Affonso Celso, “possuir juízo, entendimento, critério”. A prudência ajuda no momento de arriscar. Com margem de sensatez, arriscar é necessário e a prudência media atos insanos com atos calculados. O jovem, o adolescente, o puer muitas vezes são imprudentes por ainda desconhecerem as conseqüências. A palavra prudência não é muito enfatizada no vocabulário da vida moderna, que estimula ao risco, valoriza as inovações, atitudes e produções ao extremo. No mundo altamente consumista em que estamos inseridos, tempo, ao invés de ser arte, como é dito no Sincronário da Paz, infelizmente é dinheiro. O que gera ansiedade, correria, falta de reflexão, de prudência.
No livro “O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, a prudência é explorada de forma intensa. Nele é comentado que “Epicuro talvez diga o essencial: a prudência, que escolhe (pela “comparação e pelo exame das vantagens e desvantagens”) os desejos que convém satisfazer e os meios para satisfazê-los, é “mais preciosa que a filosofia” e é dela que “provém todas as outras virtudes”. Que importa o verdadeiro se não sabemos viver? Que importa a justiça se somos incapazes de agir justamente? E porque iríamos querê-la se ela não nos trouxesse nada? A prudência é como saber viver real, que também seria uma arte de saber desfrutar. Ocorre-nos recusar numerosos prazeres, explica Epicuro, quando devem acarretar maior desprazer , ou buscar determinada dor , se ela permitir evitar dores piores ou obter um prazer mais vivo ou duradouro. Assim, é pelo prazer que vamos, por exemplo ao dentista ou ao trabalho, mas por um prazer mais das vezes posterior ou indireto (pela evitação ou pela supressão de uma dor) que a prudência prevê ou calcula”.
A prudência vem do temor e da aceitação dos limites, não no sentido de acomodação ou retrocesso, mas de adequação à realidade. Um dos fatores que distorcem a prudência ao volante é a ingestão de álcool. Por isso a tentativa da nova legislação em vigor. O problema é a fiscalização da nova lei. A falta de noção do perigo, falta de fiscalização e a imprudência de pessoas que moram nas encostas e lugares de risco de deslizamento de terra tem provocado tragédias que são noticiadas com freqüência em épocas de chuva. Enfim, há carência nos dias atuais de mais prudência por parte dos indivíduos, nos mais variados âmbitos. Reflita sobre isso…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.