Daniele Vilela Cardoso Leite

Quando falar sobre sexo com seu filho

Daniele Vilela Cardoso Leite*

A informação, principalmente em relação à sexualidade, deve ser como um medicamento: “ter sua hora, sua dose justa, suas instruções para uso, suas contra-indicações “. É muito natural que a criança tenha curiosidade de saber de onde veio. É uma curiosidade inevitável e que deve ser respondida de maneira tranquila, como algo que faz parte da natureza humana. Se a criança ainda é muito nova, uma resposta à pergunta de onde surgem os bebês, dizer que da barriga da mamãe, certamente irá satisfazer sua curiosidade.
Ainda não é hora de explanar sobre fecundação, penetração, etc. A reposta foi verdadeira e simples, de acordo com a capacidade de compreensão nesta idade, por exemplo três, quatro anos. À medida que a criança cresce, desenvolverá raciocínios mais elaborados, e então começará a questionar mais. Provavelmente, pela ordem dos acontecimentos a próxima dúvida será “como o bebê vai sair da barriga da mãe?” Algo que parece muito enigmático para a criança. Se ela não chegou à idade pré-escolar e perguntou apenas isso, a resposta ainda deve ser apenas a esse respeito, direta e verdadeira.
As perguntas aumentarão a complexidade juntamente com a capacidade da criança elaborar os pensamentos. Os questionamentos aumentam à medida em que sua capacidade intelectual de perceber o mundo se desenvolve. Os pais devem respeitar o processo da criança e sanar de maneira objetiva, mas compreensível, as dúvidas que surgirem. Quando a criança amadurece para a leitura e escrita, inicia uma nova etapa em seu desenvolvimento. Provavelmente estará no chamado “Período de Latência”, fase posterior ao “Complexo de Édipo”.
Neste momento há um adormecimento dos sentimentos e sensações de ordem sexuais e a criança concentra todas as energias para o aprendizado. Há então o amadurecimento das condições de raciocínio e entendimento e ela estará provavelmente cada vez mais madura e pronta para compreender a sexualidade e até mesmo o ato sexual, receber a educação sexual plena, tanto física quanto afetiva, logicamente de acordo com sua linguagem e seu momento. A educação sexual engloba os dois aspectos, físico e emocional. E os filhos irão aprender o que eles perceberem ser a realidade do casal. Se o casal tem uma vida sexual baseada no carinho, afeto, respeito, os filhos irão absorver este fato ainda que no inconsciente.
Pelo fato da sexualidade ser tão complexa, e nem sempre simples de vivenciar e falar sobre o assunto, muitos pais deixam de comentar. Mas é preciso, pois se não for pelos pais, a possibilidade é grande das crianças adquirirem como verdade o que ouvirem na rua. Manipular as crianças é mais fácil que manipular pessoas de outras idades, pois elas ainda não possuem meios para se defenderem, a não ser através das opiniões e orientações dos pais. É fácil observar a exploração do sexo e do consumismo através dos meios de comunicação. Ocorre uma inadequada erotização da infância. Queimar etapas causa grandes prejuízos emocionais, e o período de latência tem sido ameaçado por toda essa erotização. O diálogo familiar é necessário. A palavra e o exemplo dos pais possuem força e relevância estruturais.

*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.