Daniele Vilela Cardoso Leite*
O conceito de família tem sofrido grandes transformações ao longo dos tempos. Pai e filho constituem uma família, assim como avó e neto, ou pai, mãe, filhos, ou pai e madrasta, mãe e padrasto. Enfim, legalmente são considerados membros da família as pessoas que moram juntas, sobre o mesmo teto, independente dos laços consanguíneos.
Para as análises da Psicologia, as referências de cada papel são o que realmente interessa (por exemplo, papel materno, paterno, fraterno etc.). Fato é que o número de casamentos que terminam em separação é muito grande, e crianças são obrigadas a vivenciarem situações muitas vezes desafiantes, como adaptar-se aos novos companheiros da mãe ou do pai.
Um temor que acontece com frequência entre crianças que vivem este tipo de situação é da perda que pode vir a acontecer na ligação entre ela e seu genitor, que nessas circunstâncias geralmente é bastante forte. Um novo casamento de um dos pais, além de ameaçar a criança por esse medo da perda, também encerra qualquer possibilidade dos pais reatarem a relação. Algumas sentem que estão “traindo” o pai ou a mãe caso se envolvam afetivamente com o padrasto ou madrasta e se sentem culpadas. Essas informações são do livro “Conversando com Crianças”, que explora várias outras situações e oferece várias dicas interessantes.
Segundo estudiosos do assunto, pré-adolescentes mostram-se menos dispostos a aceitar padrasto/madrasta. Crianças abaixo de três anos e aquelas quase adultas aceitam melhor a situação. É importante que as crianças sejam preparadas para conhecerem e receberem uma nova pessoa inserida em seu contexto familiar. As crianças precisam se acostumar aos poucos, devagar, com a nova situação. É inclusive natural a dificuldade inicial, mas que pode ser superada caso seja trabalhada devidamente.
O livro oferece algumas dicas aos padrastos/madrastas que compartilho com você, leitor: – Tente conhecer os filhos de seu novo(a) parceiro(a) antes de morarem juntos. “Deixe que eles saibam que você respeita o (a) pai (mãe) ausente e compreende quanto o amam e sentem sua falta. Deixe claro que você não quer substituir esse Pai (mãe). Você quer ser um bom amigo e compartilhar tudo o que puder com eles. Você pode não ser o pai natural mas pode oferecer calor, amizade e um relacionamento especial. Uma criança que rejeita um padrasto/madrasta com freqüência se sente divida em suas lealdades para com seu pai biológico que partiu. -Não force os enteados a chamá-lo de papai ou mamãe, a menos que eles se sintam à vontade com esse termo. -Não force um relacionamento próximo antes que a criança esteja pronta. Muitos cometem o erro de querer demonstrar um grande amor por suas novas crianças quase que imediatamente. Vá devagar na formação do relacionamento. -Nunca fale mal do pai ausente da criança. -Não tente obter favores através de tratamentos especiais ou presentes às crianças. -Seja flexível e não se preocupe se os primeiros encontros não forem bem. -Espere nutrir sentimentos ambivalentes quanto aos enteados: amor, raiva, ciúmes, culpa. -Tente ler tudo o que puder a respeito de ser padrasto ou madrasta”.
Essas são referências para quem deseja harmonia em um novo relacionamento em que crianças estejam envolvidas. Temos visto pelos meios de comunicação crianças que são mal tratadas e inclusive têm seus direitos violados por padrastos/madrastas. Observamos que existem também famílias equilibradas e com a existência do padrasto/madrasta. É muito relativo, mas espera-se que os adultos tenham sensibilidade para compreenderem que se trata de um desafio para todos, e que desafios requerem esforço para serem vencidos. No final, vale a pena a construção de relacionamentos satisfatórios e favoráveis baseados na paciência e na vontade de vencer os desafios…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.