Daniele Vilela Cardoso Leite

Quanta Loucura!

Daniele Vilela Cardoso Leite*

A esquizofrenia (loucura) é uma patologia que a maior parte das pessoas desconhece, a não ser pelos muitos mitos que o assunto suscita.
Na verdade, não só a comunidade leiga, mas também a científica, se articulam em relação à doença com cautela, pois este é um problema da ordem do subjetivo, além de não serem claras as causas (apesar da hipótese de tendência hereditária, aliado a uma série de fatores ambientais) e exatamente o que ocorre no organismo do doente.
A Sociedade Brasileira de Psiquiatria Clínica (SBPC) fala sobre isso em linguagem clara e objetiva. Explica que “esquizofrenia é um termo utilizado para descrever um estado extremamente complexo ? a mais crônica e incapacitante entre as doenças mentais.
Aproximadamente 1% da população desenvolve esquizofrenia no decorrer da vida. Afeta homens e mulheres com igual freqüência. Em geral, os primeiros sintomas aparecem durante a adolescência ou durante a década dos 20 anos nos homens e durante a década dos 20 ou princípio da década dos 30 anos nas mulheres.
O esquizofrênico é considerado um “psicótico”. O termo psicótico define perda do sentido de realidade ou incapacidade de distinguir entre as experiências reais e imaginárias.
O mundo das pessoas esquizofrênicas é singular. Assim como indivíduos normais vêem o mundo sob sua perspectiva pessoal, os indivíduos esquizofrênicos também têm sua própria percepção da realidade. Sua visão de mundo é surpreendentemente diferente da realidade que normalmente é percebida e compartilhada pelas pessoas que o cercam. E isto pode fazê-lo sentir-se ansioso e confuso. Seu mundo pode estar repleto de alucinações, ou seja, ele pode perceber estímulos ou objetos que na realidade não existem, tais como ouvir vozes que lhe ordenam que faça determinadas coisas ou ver pessoas ou objetos que não estão realmente ali, ou sentir dedos invisíveis que lhe tocam o corpo. Estas alucinações podem ser assustadoras.
Outro sintoma são os delírios, ou crenças pessoais falsas, como, por exemplo, temas de perseguição ou grandeza. Ele pode acreditar que um vizinho está controlando sua conduta com ondas magnéticas, ou que seus pensamentos são ouvidos por outras pessoas. Podem ocorrer, também, distúrbios do pensamento, a pessoa pode ter dificuldade em pensar estruturadamente durante muitas horas. Os pensamentos podem ir e vir tão rapidamente que não é possível “retê-los”. Esta falta de continuidade lógica do pensamento pode tornar difícil o diálogo e contribuir para o isolamento social.
As emoções também são afetadas. Às vezes, pessoas com esquizofrenia manifestam o que se denomina afeto inadequado. Isto significa demonstrar uma emoção que não tem relação com o que a pessoa pensa ou diz. Por exemplo, pode dizer que está sendo perseguida por demônios e começar a rir.
Algumas vezes indivíduos normais podem sentir, pensar, e agir de forma desorganizada. Assim, como pessoas normais podem às vezes fazer coisas estranhas, o esquizofrênico pode pensar, sentir e agir de forma normal. Pode ter um certo senso da realidade; por exemplo, sabe que a maioria das pessoas come três vezes ao dia e dorme durante a noite. Estar fora de contato com a realidade não significa que o indivíduo esteja vivendo totalmente em outro mundo, mas, sim que há certos aspectos da vida deste indivíduo que não são compartilhados pelos demais”.
Estas são informações retiradas do material da SBPC, que nos mostra um pouco do que sente um esquizofrênico. São pessoas que merecem respeito e consideração e precisam de ajuda. A comunidade pode discriminar ou ao contrário respeitar uma pessoa doente. Há vários tipos de tratamento e é de essencial importância que o doente seja assistido pelo médico e demais profissionais da área da saúde que se fizerem necessários.
Há doentes mentais que possuem capacidade de viver em sociedade, ser útil. Recebendo tratamento, grande parte deles pode ter a doença estabilizada e a vida produtiva. Mas infelizmente o preconceito é muito grande, o que chega a impossibilitar este processo de recuperação. A população precisa se esclarecer mais acerca deste problema, pois muitos desconhecem que o esquizofrênico pode se inserir na sociedade e ter uma certa qualidade de vida.
Terá “loucura” mais triste que o preconceito?

*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.

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