Daniele Vilela Cardoso Leite*
Sentir raiva faz parte da natureza humana. Ninguém está livre de surpresas, sejam elas positivas ou negativas. Somos seres finitos, imperfeitos, sujeitos a frustrações e tal sentimento às vezes é natural.
A questão é o que cada indivíduo faz quando sente raiva. Alguns matam, outros agridem física ou verbalmente. Há os que reprimem, na linguagem popular “engolem” a raiva, não fazem a “digestão”, ou seja, não elaboram, e adoecem. Tornam-se deprimidos, adquirem gastrites, úlceras, entre tantas outras doenças. Mas se não é adequado reprimir ou expressar livremente esse sentimento, o que fazer?
Técnicas para auxiliarem os adolescentes dizem o seguinte: “É importante deixar a raiva sair de forma que não machuque as pessoas nem estrague as coisas. Maneiras bacanas são: – Dizer “eu estou com raiva porque…” – Dar socos numa bola ou num travesseiro. – Gritar para dentro de um travesseiro ou no chuveiro. – Bater os pés com força ou bater palmas. – Escrever uma carta furiosa e rasgá-la depois de terminar. – Escrever em seu diário. – Fazer rabiscos com um giz de cera vermelho num jornal velho (com força!) e amassá-lo numa bola para atirá-lo contra uma parede. – caminhar bem rápido…”; adaptar as sugestões ao universo adulto implica na compreensão de que as raivas precisam ser canalizadas ao mundo externo de forma adequada. Chorar, praticar esportes, utilizar a arte, mas sempre procurando ter consciência dos sentimentos e dialogando de forma verdadeira são algumas maneiras adequadas, caso não ocorra exagero nessas atitudes.
As explosões de violência ao redor do mundo são exemplos da dificuldade humana em lidar com sentimentos como os da raiva. Ímpetos raivosos violentos são advindos da falta de canais adequados de expressão para que tais sentimentos não sejam reprimidos no inconsciente e possam emergir negativamente. Negar a raiva é negar o humano. Alimentá-la é falta de inteligência emocional. Canalizá-la é imprescindível para a saúde mental.
Os sonhos ajudam muito nesse sentido. Caso não sonhássemos não conseguiríamos conviver. Em sonhos realizamos ações proibidas ao estado de vigília. Muitas raivas são elaboradas através dos sonhos. Ao raciocinarmos em termos de energia psíquica, o sonho ajuda a extravasar esses sentimentos (energias) pois não há a censura da vida real. Mas para uma boa saúde mental e emocional dos indivíduos é necessário compreender esses sonhos, pois apenas ao sair do inconsciente e vir para o consciente a questão realmente é resolvida, em linguagem técnica o conflito é transcendido. Por isso o sonho é tão valorizado e importante para a ciência da Psicologia e Psiquiatria. Não somente a raiva mas todos os sentimentos emergem em sonhos e precisam ser canalizados para que ocorra um desenvolvimento normal da personalidade.
Cada indivíduo encontra sua própria maneira de lidar com os sentimentos mas muitos e em várias circunstâncias demonstram precisar de ajuda e essa é uma função da Psicologia. A raiva é um sentimento que vem da condição humana, limitada. A questão é o que cada um faz com suas raivas…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.