Daniele Vilela Cardoso Leite*
Há apenas 45 anos existem os remédios que agem em indivíduos com problemas mentais e emocionais e já é imensa a quantidade de pessoas que fazem uso deste tipo de medicamento. Com a descoberta desses remédios, muitos foram os doentes mentais que se beneficiaram.
Doentes mais graves, que seriam impedidos de conviver com outras pessoas e ter uma vida produtiva foram agraciados por esse avanço da medicina. Outro aspecto positivo desses remédios foi ajudar os cientistas a entenderem um pouco mais sobre o funcionamento do cérebro, observando como os medicamentos aliviam doenças como depressão, ansiedade, etc.
Mas ainda assim a relação do biológico com o psicológico nas doenças mentais traz muitas dificuldades para a compreensão do homem, porque tem que ser levada em consideração a história emocional de cada indivíduo, a singularidade do sujeito. Poderíamos dizer que, por isso, seja “uma pedra no sapato” dos médicos e cientistas.
Mas não somente deles. Das pessoas de uma forma geral. Da população. A resistência é grande em admitir a necessidade de trabalhar o mundo emocional para obter a saúde esperada. Apesar de, com o progresso e o avanço dos tempos, esta resistência sutilmente estar melhorando e este paradigma estar sendo quebrado, isto ainda é forte, pela dificuldade tanto em admitir existirem problemas emocionais quanto em tratá-los, pois isso implica em mexer na estrutura de vida da pessoa. É mais fácil tomar um remédio para dormir do que investigar a causa da insônia e cortar o mal pela raiz. É mais prático tomar um antidepressivo do que procurar os pontos causadores de insatisfação, medo, angústia, dor.
Mas o que ocorre é que os medicamentos psicofármacos não curam o doente. Eles aliviam seu sofrimento. Este é um ponto fundamental, mas infelizmente não levado em consideração por tantos usuários e até mesmo por muitos médicos.
Os remédios são de grande valor, mas se usados criteriosamente, quando todos os recursos já estiverem sido esgotados. Ocorre, por exemplo, da família de um paciente procurar o psicólogo com a problemática de depressão maior, ou seja, depressão grave na família e o psicólogo encaminhá-los para um médico psiquiatra, pois para que a terapia aconteça o paciente precisará por um tempo do auxílio do medicamento.
Triste é quando pessoas, por exemplo, com depressão mais branda começam a fazer uso do medicamento sem que realmente ele fosse indispensável, e sofrem os efeitos colaterais do remédio sem necessidade. Deixam de fazer uma terapia, ou de tentar mudar a sua estrutura de vida e daí a alguns anos são acometidas por doenças psicológicas graves. Escuto com frequência o comentário: “tomo só um comprimidinho para dormir…”, ou “este é só um remedinho para me acalmar…”.
Lembre-se de que você pode estar aliviando seu sofrimento momentâneo, enquanto poderia estar mudando sua vida. Está correndo o risco de parar de tomar o remédio e os males voltarem, comprometendo seu futuro, sua vida.
Os remédios antipsicóticos, ansiolíticos, antidepressivos são úteis se usados adequadamente. São bons. Ruim é o modo como tem sido administrado seu uso, tanto por alguns médicos quanto pela população em geral.
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.