Daniele Vilela Cardoso Leite*
Rir dá prazer, abre os canais energéticos para a entrada de boas vibrações. Uma boa gargalhada é um santo remédio para vários males. Engloba três dimensões do homem: “quando você ri seu corpo participa, sua mente participa, seu ser participa. No riso as distinções desaparecem, a divisão desaparece…”
Mas por que existem situações em que uns acham graça e outros não? Por que achamos graça em umas piadas e outras não? Por que há pessoas que fazem uma leitura divertida da vida e outras não conseguem ter humor? Como funciona esse mecanismo psicológico de reação ao mundo?
A resposta vem quando nos remetemos à origem da palavra humor. Em latim húmus é a terra fértil, e o termo dá origem a homo, homem. E o latim também deriva dessa mesma raiz duas outras palavras centrais, humilitas e humor . Humildade é a característica daquele que está próximo da terra. Humor é um termo irmão, ligado a secreção, umidade, condições essenciais para a existência da vida. Ou seja, a humildade e o humor caminham juntos.
Rimos do que nos falta. Rimos quando caímos, ou cometemos uma gafe, damos um “fora”. A piada é baseada em alguma falta. O indivíduo que ri de si mesmo, tem humor, tem esportiva, está reconhecendo sua condição de ser humano, que não é Deus, não é perfeito, não tem que acertar sempre.
Max Gheringer é um importante e bem sucedido executivo que discursa muito sobre a importância do humor no trabalho. Ele diz que quem se diverte com as próprias mancadas não sofre escárnio alheio. Ele faz associação entre eficiência e humor. Segundo ele, um casamento perfeito: buscar fazer sempre o melhor e quando não for possível ter o resultado esperado, rir e recomeçar, buscar acertar ao invés de ficar de mal humor.
Schopenhauer diz que o humor é a única coisa que lhe permite manter a alma em liberdade. Rir liberta na medida em que traz implícita a não perfeição. Erramos sim. Não somos perfeitos. Somos humanos. Quem não ri não possui humildade. Não entende, inconscientemente, que somos Humanos.
Não podemos é permanecer no erro, ou errar constantemente. E reconhecer isso liberta. Segundo Aracely Martins, escritora, onde está sisudamente escrito “proibido” o humor faz rir e lê “permitido”! É permitido à criança, ao louco, ao humorista, falarem o que ninguém mais poderia dizer.
Além do humor nos libertar no sentido em que traz implícitas nossas imperfeições e por isso não temos (podemos) corresponder sempre às expectativas do mundo, também é símbolo de liberdade enquanto transformador. Como ele emerge da quebra de expectativas, gera o surpreendente, o novo, o criativo! Mahatma Gandhi disse: “Se não fosse o humor, há muito teria me suicidado”.
Rir depende mais de uma condição interna que externa. Rir é virtude, é alegria, é festa, é Luz! Nas palavras de Shree Rajneesh, “no dia em que o homem se esquecer de rir, no dia em que o homem se esquecer de ser brincalhão, no dia em que o homem se esquecer de dançar, ele não será mais um homem; terá caído no nível das espécies sub-humanas. A brincadeira o torna leve; o amor lhe dá luz, a risada lhe dá asas. Dançando com alegria, ele pode tocar as estrelas mais distantes. Ele pode reconhecer os próprios segredos da vida”.
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.