Daniele Vilela Cardoso Leite*
A separação de um casal é algo complexo, gera dores emocionais, e acontece com a intenção de melhorar a vida de todos, embora no início seja algo desagradável. As transformações são saudáveis na vida das pessoas, mas no momento em que estão acontecendo incomodam. Isso faz parte e tem que ser superado.
Emocionalmente é um processo que não acontece de forma rápida. As elaborações emocionais acontecem no decorrer do tempo. Ao iniciar um relacionamento as expectativas são sempre otimistas e muito grandes, o que atrapalha as relações e torna os rompimentos mais difíceis.
A vida é da ordem do imprevisível e expectativas demais em relação a qualquer assunto não é saudável emocionalmente. Torna as pessoas rígidas, com dificuldade em flexibilizar. Fazer planos e ter metas é diferente de criar expectativas excessivas.
O casamento envolve questões familiares, financeiras, sociais, afetivas, emocionais. São muitos os planos. E em meio a todas essas questões vêm os filhos. E em casos de insucessos nas relações entre o casal, ficam os filhos, precisando de uma maturidade e um equilíbrio que diante da separação e das expectativas frustradas os pais muitas vezes não têm para dar. E se eles não têm e os filhos precisam, há uma lacuna aí a ser preenchida. Têm que buscar em alguma fonte força e equilíbrio. Algumas pessoas têm mais dificuldade que outras e isso é muito singular.
Os filhos precisam que haja comunicação entre os pais. E precisam saber que a mudança gira em torno da separação do casal, mas o pai continuará a ser pai e a mãe também, apesar de serem ex-casal. Essa segurança oferecida aos filhos é essencial para a saúde emocional da criança/adolescente.
Outra referência básica que os pais devem respeitar é de não falarem mal um do outro na frente da criança. Recentemente foi lançado um livro para orientar os indivíduos diante desse problema: “Manual de Mães e Pais Separados – Guia para a Educação e a Felicidade dos Filhos”, lançado pela Ediouro e escrito por Marcos Wettreich, que passou pela experiência da separação e das consequências na vida da família. É uma leitura recomendada.
Todo e qualquer especialista na área comportamental recomendará em primeiro lugar essas duas posturas que acabo de citar. De que separação não implica necessariamente em ex-pais e que é extremamente inadequado falar mal de um dos provedores com a criança/adolescente.
Livros como esse citado, ajudam através de dicas e lições de experiências, a colocar em ação essas atitudes sadias recomendadas. O livro fala em etiqueta de comportamento diante da separação. O termo etiqueta faz lembrar que tem que haver respeito tanto no momento de iniciar uma relação quanto na hora do término. Seja no casamento, ou namoro, ou em qualquer outro tipo de relação.
Hoje é muito comentado também que o melhor é que o casamento dure ?até que a morte os separe?, mas se não houver mais o mínimo de sentimento para mantê-lo, é mais nocivo aos filhos presenciarem brigas e desrespeitos do que passarem pela fase de separação respeitosa dos pais. Todas essas posturas indicadas pelos especialistas devem ser analisadas pelos conjugues, e cada casal vai adapta-las à sua realidade de maneira que puderem e conseguirem, pois cada caso é um caso. Mas referências na conduta são muito importantes e apesar de cada profissional utilizar uma linguagem e uma técnica para ajudarem quem vivencia uma separação, a estrutura da fala será sempre baseada nessas dicas aqui relatadas. E caso o casal não consiga adapta-las à sua vida, é obrigação deles procurarem ajuda. Seja na família, ou com um profissional adequado (psicólogo), ou na busca de uma fé fortalecida, etc. Tem que haver novas metas na vida de cada um. Novos objetivos, aceitação, flexibilidade para compreender que nem sempre as expectativas são cumpridas. Inclusive expectativas demais trazem sempre frustrações.
Relacionar é uma arte. Com o parceiro, os pais, amigos, filhos, colegas de trabalho, etc. Separações não são fáceis, mas também podem trazer novas vivências. E filhos precisam de amor, segurança, respeito, afeto e limite. Seja dos pais que estiverem juntos ou não..
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.