Daniele Vilela Cardoso Leite*
Pensar que o tempo resolve todas as situações que trouxeram algum tipo de desagrado ou dor emocional é um raciocínio e uma filosofia de vida que não levam em consideração a existência do inconsciente.
Este é uma instância psicológica que registra as experiências, sentimentos, enfim, a história de vida do sujeito. É uma das bases da Psicologia, que trabalha, através das várias linhas terapêuticas, o pressuposto de que o ser humano tem suas ações e reações baseadas nessa construção que é o inconsciente.
Portanto, achar que apenas o tempo pode solucionar os problemas é um pensamento simplista e que acarreta mais consequências negativas que se possa imaginar. É realmente mais fácil pensar que com o tempo o sujeito esquece os problemas, as mágoas etc. Realmente o tempo ajuda muito nas dores emocionais. Mas para que ele seja verdadeiramente útil é necessário primeiro vivenciar os sentimentos, ao invés de abafá-los, introjetando-os.
Um exemplo disso é diante da morte de um ente querido negar os sentimentos e achar que o tempo irá ajudar. Antes de deixar que o tempo faça sua parte, é necessário chorar, pois esta é uma maneira que o organismo tem para expressar os sentimentos (“o choro é a linguagem muda da dor”), lamentar, pensar e repensar, e aí então tentar reagir e deixar o tempo agir. Lembrando que o extremo também é prejudicial. Mergulhar e permanecer na dor.
Cada sujeito possui o seu tempo para sentir e conseguir reagir. É algo particular, singular. Daí um dos fatores de complexidade das relações e do estar no mundo convivendo. A tendência de muitos é reprimir, abafar os sentimentos, nas mais variadas situações. E como geralmente num certo sentido as pessoas têm um tipo de comportamento padronizado, vão repetindo a mesma reação. Com namorado (a), pai, mãe, irmãos, colegas de trabalho etc. O acúmulo de situações mal resolvidas provoca a desestruturação emocional e o que Freud chamou de compulsão à repetição.
Um homem ou mulher que iniciou sua vida amorosa com problemas, pode carregá-los para os próximos relacionamentos caso não consiga detectá-los e não perceba que pode ser diferente. Por isso vai mudando de objeto sexual (parceiro) e repetindo o que o fez sofrer.
Situações mal resolvidas com uma pessoa impedem o sujeito de agir e reagir diferente em um próximo relacionamento. Pessoas mal resolvidas são aquelas que reprimem as emoções, passando pelos acontecimentos sem vivenciá-los, entendê-los e vão, assim, impedindo o próprio desenvolvimento. É como colocar pedras no caminho que impeçam a livre passagem.
Há várias maneiras de “retirar essas pedras”, dialogando, conversando, expressando, sublimando. Uma essencial base da inteligência emocional é o diálogo consigo mesmo e com outro, baseado na sinceridade emocional e na coragem para tentar compreender e resolver os desafios que a vida impõe em nome do crescimento, amadurecimento e evolução do homem.
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.