Daniele Vilela Cardoso Leite*
Especialistas estudiosos do comportamento humano têm alertado para o perigo da intensa atividade na fase da infância, com crianças que possuem agendas repletas de compromissos.
São estudiosos da psique infantil, psiquiatras, psicólogos e outros profissionais da área da saúde e educação que sabem a importância do brincar e viver essa fase com respeito e valorização das descobertas da vida, que acontecem lenta e gradualmente, e precisam de tempo e entrega para que se realizem plenas e sólidas.
É notório que crianças devem receber estímulos para se desenvolverem. Esta é uma época fértil para o aprendizado. A memória é excelente, a abertura para o novo é intensa. No entanto tem que haver bom senso por parte dos pais, que ficam ansiosos e com medo dos filhos não serem bem sucedidos na vida, e para que isso não aconteça, sobrecarregam a criança com uma série de atividades. Muitos têm a tendência de tratar a criança como um adulto pequenino em termos psicológicos, e essa não é a realidade. São mundos muito distintos.
Crianças precisam brincar, explorar o que estiver ao seu redor. Descobrir. Primeiro o mundo é reconhecido através da boca. O seio materno é o primeiro contato, seguido das mãos, brinquedos, e de tudo mais que a criança tiver acesso. Ela irá experimentar tudo isso com a boca. A sensação instintiva de sugar o leite materno é o ápice da satisfação. Nessa fase da oralidade quanta surpresa acontece para o bebê!!! Vem o sorriso, outra sensação deliciosa! … e assim vai acontecendo o desenvolvimento humano. De repente a criança percebe que possui o ?poder?de reter ou soltar os esfíncteres, fezes e urina. E dessa primeira experiência, associada a outros fatores como meio ambiente, características hereditárias, etc, se sedimenta o apego ou desapego, o prender ou o soltar, às pessoas e coisas, e tudo mais.
E continuam as descobertas e o crescimento… suspeita-se então de que algumas pessoas são diferentes de outras, e revela-se o fato de existirem meninas e meninos, feminino e masculino. Quanta surpresa! E dessa novidade aprende-se a diferença dos sexos, o que será refletido nas futuras relações homem/mulher. Depois dessas tantas descobertas, ocorre uma fase em que a criança é aplicada na cultura com mais veemência. É quando ela aprende a ler, suas energias estão mais canalizadas para o aprendizado acadêmico, didático. Até que vem a pré-puberdade e adolescência, e tudo continua mudando. Mas na infância há um fluxo muito maior de mudanças, que à medida que o tempo passa, tendem a diminuir ( por isso, se você quer alimentar um espírito jovem, não resista às mudanças, se entregue a elas). A criança precisa de tempo para vivenciar todas as novidades, assim como o adulto também precisa de tempo para elaborar seus sentimentos, cada um em seu ritmo.
As crianças, além da sobrecarga física, sofrem com a grande quantidade de informações. Assistem a programas de televisão totalmente incompatíveis com seu grau de desenvolvimento, e assim ?queimam? etapas nas descobertas, sendo isso um profundo desrespeito às leis da natureza humana, que estabelece seus parâmetros. Criança não deve e não pode assistir a minisséries, filmes, novelas, etc, que invadam seu mundo infantil com violência, ira, medos, sexualidade, etc. Mas privar totalmente uma criança do mundo real também é tão nocivo quanto o contrário. Os extremos só prejudicam. É preciso bom senso e equilíbrio. Buscar programas infantis, permitir aos poucos o contato com as diversas realidades, coisas boas e ruins da vida. Existem assuntos que não devem ser comentados na frente de crianças. Muitos pais conversam na presença das crianças sobre problemas e questões que competem apenas ao mundo adulto, e essa é esse é um grande erro.
Um estudo mais científico e técnico que justifica por parte dos pais uma profunda reflexão sobre esse assunto, vem nas palavras do psiquiatra e cientista, Carl Gustav Jung: “a partir do inconsciente brota a consciência. Nos primeiros anos de vida quase não se verifica consciência, apesar de existirem processos psíquicos. Mas esses processos não estão relacionados a nenhum ‘eu’. Não tem centro e por isso carecem de continuidade sem a qual é impossível a consciência. Quando a criança começa a dizer ‘eu’, é que tem começo a continuidade da consciência já perceptível mas por enquanto ainda muitas vezes interrompida. Nesses intervalos se observam numerosos períodos de inconsciência. Dessa maneira consciência e inconsciência começam a se relacionar, formando o mundo psíquico da criança.”
Por tudo isso, queridos pais, observem com olhar crítico a criação de suas crianças. Uma infância bem vivida refletirá positivamente pelo resto da vida de seus filhos…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.