Daniele Vilela Cardoso Leite*
O estabelecimento de verdadeiros diálogos em que um proponha a colocar-se no lugar do outro conduz ao resgate de muitas relações conflituosas. Às vezes torna-se necessário um auxílio para que ocorra a comunicação entre o casal, e a entrada de uma terceira pessoa, um profissional, pode vir a ser útil. O psicólogo, obviamente, não possui as respostas para os conflitos, mas possui a oportunidade de acessar junto ao casal canais de comunicação entre os parceiros, e o que é mais importante, incentivar a comunicação de cada um consigo mesmo, através de direcionar o olhar ao mundo interno. Tal procedimento cura, transforma, resgata. Qualquer acontecimento pode ser percebido através de vários ângulos, e ocorre uma expansão nessa visão.
O casal que encontra-se em terapia precisa estar internamente disposto a ouvir os ditos e não ditos do dia-a-dia. Existem técnicas que auxiliam esse processo. O movimento de voltar para o próprio mundo interno com posterior olhar externo faz com que os problemas sejam observados por outros ângulos. Diante de crise conjugal a tendência é culpar o outro, e insights importantes acontecem quando há um mergulho no próprio mundo interior e vê -se outras “verdades”. A terapeuta de casal e sexóloga Walkíria Fernandes, há tempos atrás, falou ao “Jornal Estado de Minas” e relatou que “ ao observar que não é possível mudar a outra pessoa, a tendência do ser humano é desistir, deixar de lado, o que provoca o esfriamento da relação. Ninguém muda ninguém. Somos impotentes em transformar uma pessoa, mas somos muito poderosos quando estamos abertos para experiências novas e construtivas e conseguimos alterar nosso destino conjugal”.
Outro ponto comentado pela especialista foi a crise financeira como fator desencadeante de fortes desentendimentos, entre tantos outros possíveis fatores. A ciência da Psicologia revela que os conflitos infantis estão presentes em todas as relações, e fortemente nas relações conjugais, pois a “qualidade dos vínculos criados no convívio familiar durante a infância tende a repetir-se ao longo do desenvolvimento em diversas circunstâncias e cenários diferentes. No indivíduo emocionalmente maduro, os conflitos, ainda que presentes, serão menos intensos e o outro será visto como uma pessoa individualizada com a qual irá reunir para, mutuamente, completarem sua identidade biopsicológica, terem filhos e se perpetuarem na espécie. O contrato “não escrito e não verbal” dos relacionamentos deve-se ao mecanismo de identificação projetiva que pode possuir dois aspectos: baseado nas características patológicas e empobrecedoras ou nas características boas do ego”. (Apostila sobre assuntos de Psicologia elaborada por Marirosa Correia Ferreira Santos).
A aceitação do outro é essencial para a construção de um relacionamento bem sucedido. Todos os seres são imperfeitos e na relação conjugal ocorre o contato não somente das próprias limitações como também as do outro. E como diz Jung “ Aquilo a que se resiste, persiste”. Portanto a aceitação dos pontos a melhorar do outro e de si mesmo torna-se um desafio que é superado na consciência e aceitação das imperfeições. É o amor, tão sagrado e forte, o responsável pela verdadeira motivação para se alcançar tal sucesso e possibilitar assim a construção de profundas histórias de vida…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.