Daniele Vilela Cardoso Leite*
A falta, assim como o exagero de tolerância, implicam em expressivas consequências. Eis um desafio interessante. Conseguir dosar e utilizar a tolerância na medida adequada, em cada momento vivido. Tolerar além do indicado implica em construir uma “bomba relógio”, que irá explodir a qualquer instante (essa é a “lei” da energia psíquica). E geralmente fora do contexto correto. Tolerar aquém também é construir na areia, sem base, sem firmeza, sem estrutura.
No livro “O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, de André Comte-Sponville, a tolerância é uma reflexiva virtude. “Ao contrário do amor ou da generosidade, que não tem limites intrínsecos nem outra finitude além da nossa, a tolerância é, pois, essencialmente limitada: uma tolerância infinita seria o fim da tolerância!”. Refletindo em termos de energia psíquica é um grave erro tolerar além. Pois tal energia explodirá ou irá implodir em doenças e desestruturará as relações.
Nos relacionamentos amorosos, pessoais, profissionais, interpessoais de forma geral, o prejuízo é certeiro se não houver comunicação das satisfações e insatisfações. As pessoas não conseguem se comunicar por medo de ferir o outro , insegurança, medo de perder o amor do outro, assim como para evitar conflitos, ou pensar que com o tempo o que incomoda irá passar. Isso gera tolerância indevida. E o prognóstico torna-se negativo. É necessário falar. Fazer crítica não é sinônimo de agredir, desde que a palavra seja usada no contexto adequado, com respeito, com cuidado. Quando um casal consegue alcançar tal amadurecimento, a construção da relação se torna prazerosa, os crescimentos são certeiros e alimentam o amor. No entanto o que percebemos na atualidade é que a tolerância parece faltar. Tolerância no trânsito, com as limitações alheias, entre os casais (que optam pela separação diante dos desafios).
O sentimento de frustração é intrínseco à condição humana e ao invés dos pais e familiares ajudarem no aprendizado da aceitação, ocorre o contrário. Todos evitam a frustração e as crianças se tornam adultos profundamente intolerantes. A evolução tecnológica alterou a vivência do tempo, o que atinge todos os âmbitos de nossas vidas. Tolerar ou não um mínimo de tempo de espera para realização de qualquer questão se tornou algo muito difícil. A natureza pede que esperemos, que sejamos tolerantes na medida adequada. Uma criança que nasce antes do tempo ou após o momento esperado pode desenvolver problemas. E quanto mais distante da hora determinada, para mais ou para menos, piores as conseqüências.
Natal é tempo de reflexão. Que possamos perceber se há equilíbrio ou a falta dele em termos de tolerância, e que cada um de nós possa se disponibilizar internamente para buscar a tão necessária virtude da tolerância na medida certa…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.