Daniele Vilela Cardoso Leite*
Já diria o sábio Jung, “aquilo a que se resiste, persiste…” Ou seja, aceitação é sinal de transcendência, caminho livre à evolução. E vice-versa. Não aceitação gera “alimento” e força àquilo que é indesejado. O gasto energético para manter situações sem aceitá-las é grande. Adoece, suga, mina a energia. Às vezes até faça parte do processo emocional, mas desde que não seja por tempo exagerado. Tolerar sem aceitar fortalece o indesejado. Se há algo que gera insatisfação o primeiro passo é tentar a mudança. E se for algo imutável é trabalhar as emoções para visualizar a situação de forma diferente. Ver por outros ângulos. Posso ver minha mão por vários ângulos. Palma, dorso, laterais.
Posso perceber desafios também de várias maneiras, observar por vários ângulos e formas. A sábia Oração da Serenidade do AA já diria: “Concede-me Senhor a serenidade necessária para aceitar as coisas que eu não posso modificar, coragem para modificar aquelas que eu posso e sabedoria para distinguir umas das outras…”. Não é inteligente tolerar algo sem trabalhar as emoções em torno da questão. Indivíduos que assim agem procuram inconscientemente caminhos para suportarem. Tais alternativas são importantes e necessárias, pois as energias psíquicas precisam de canais para que possam ser libertadas e transcendidas. E determinados acontecimentos, quando não aceitos, ganham proporções internas gigantescas e perigosas. São energias psíquicas que precisam ser extravasadas, canalizadas.
Nesse sentido, alternativas como a convivência com amigos, prática de exercícios físicos, o trabalho, a produtividade (a arte, criação, etc.), se tornam importantes canais. O sonho, como dito há poucas semanas nessa coluna Vivência, também é um indispensável canal. Mas tolerar por um longo tempo sem aceitar e trabalhar as questões, ainda que com canais de expressão, pode trazer adoecimento emocional, mental. Como sempre dito, um raciocínio importante na Psicologia é em relação a como estão os canais de energia psíquica, ou segundo Freud, libido (energia psíquica na linguagem Junguiana, libido na linguagem Freudiana).
Se o problema é imutável, é bom procurar um Psicólogo para ajudar a ver por outro ângulo. . Apenas lamentar dará força negativa. Reprimir também é nocivo. Provoca doenças e piora o quadro geral. É necessário a consciência e o trabalho emocional em torno da situação. Na estrutura psíquica existe o inconsciente. Não somos seres apenas conscientes. E isso faz toda a diferença em nossa vida. Reprimir emoções, fingir para si e para o Outro que não existem incômodos são atitudes que não consideram o inconsciente. Mas ele existe e essa realidade aparecerá de alguma forma. Ás vezes com atitudes imprevisíveis. A expressão “do nada ele(a) mudou”, engana. Não é “do nada”. É do inconsciente.
O final de ano se aproxima. É época de reflexão, balanço do que passou, metas par o ano que virá. É época de Natal, nascimento de Jesus, momento de esperança. Que possamos ter a noção da importância da consciência, da reflexão e das atitudes para uma vida mais autêntica e saudável. A fidelidade a si mesmo deve ser prioridade. Pois ela é estrutural para as demais relações. Assim seja…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.