Daniele Vilela Cardoso Leite*
A velocidade das mudanças de papéis e valores morais e sociais na vida da mulher têm acontecido de forma muito rápida. O processo está tão acelerado que impossibilita as pessoas de raciocinarem e analisarem sobre as novidades.
Estas simplesmente surgem e a maioria apenas as absorve e acabam se deixando determinar pela cultura imposta.
Até alguns anos atrás a mulher era criada para casar, ter filhos, se submeter às vontades do marido. Em 1975, criado o primeiro grande grupo feminista brasileiro e as mulheres começaram a se organizar e lutar por seus direitos. Atualmente, apesar de ainda existir diferença entre os salários pagos aos homens e mulheres e os homens lucrarem bem mais, ainda existir a violência doméstica intensa e ainda ser considerada por muitos um “sexo frágil”, a mulher já pode se tornar engenheira, advogada, ou motorista de ônibus, ou taxista, ou entrar para a Polícia, ou Marinha, ou Corpo de Bombeiros. Já pode escolher seu caminho profissional, ter filhos ou não.
Está tão infiltrada no mercado de trabalho que compete com os homens, levando vantagem em vários âmbitos, devido à sua sensibilidade, por estar mais alerta e atenta aos relacionamentos interpessoais nas relações de trabalhos. Também por ser paciente, persistente, humana e ao mesmo tempo calculista e ambiciosa. A transformação foi tão intensa que hoje a sua independência econômica tornou-se sutilmente uma obrigação.
A estrutura social do papel da mulher é outra. O que não mudou foram as obrigações de mãe e mulher da casa, o que tem gerado uma infinidade de problemas, pois muitas mulheres não estão conseguindo equilibrar o seu tempo e priorizam os seus tantos objetivos, comprometendo sua vida familiar, profissional, sua integridade física e emocional e dos que convivem com ela.
Muitas querem fazer tudo de uma só vez. Ser mãe, esposa, trabalhar, estudar. Fazer escolhas não é fácil, por implicar em perdas, e nem sempre há disposição para pagar o preço. Uma opção para a mãe de família é procurar trabalhar meio horário, pelos menos enquanto os filhos forem crianças e dependentes física e emocionalmente.
Temos presenciado crianças crescendo sem referências familiares. Ganham presentes caros, estudam em boas escolas, têm babás etc., mas não têm pais presentes, porque o objetivo deles é trabalhar para ganhar dinheiro e oferecer uma vida digna aos filhos, mal sabendo que a vida digna existirá se o amor e a referência que seus filhos receberem na infância forem sólidos e verdadeiros.
Deveria ser claro para os pais e a sociedade que os filhos precisam da presença dos pais durante seu desenvolvimento. Mas o óbvio, às vezes, é muito difícil no dia-a-dia de ser percebido e provocador de mudança. Quando as pessoas estão vivenciando problemas não é tão simples enxergá-los, pois eles estão tão próximos dos olhos que impedem a visão.
Neste momento a Psicologia é importante, pois proporciona ao sujeito um distanciamento. É como se olhasse de fora sua vida, como um espectador, o que possibilita mais discernimento e compreensão. Acontece com muitas de não perceberem que seus filhos estão carentes, sozinhos, necessitados de atenção e presença materna.
É uma necessidade do mundo atual que a mulher reflita e coloque metas em sua vida, ao invés de deixarem se levar pelos acontecimentos, e assim serem atropeladas pelo turbilhão da vida moderna de terem que ser ótimas profissionais, mães, esposas, fontes de renda.
É preciso que cada uma pense nos seus objetivos, suas escolhas, seus desejo, e priorize o que for mais importante e significativo, com uma visão crítica para conseguir conciliar suas necessidades e vontades, com a qualidade e o sucesso de suas escolhas e papéis.
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O 08 de março, Dia Internacional da Mulher, é uma data que nos remete à reflexão sobre o sexo feminino. Aprofundando em suas peculiaridades, mistérios, magias, Clarissa Pinkola Estés escreveu o livro “Mulheres que Correm com os Lobos”. “Os lobos sempre rondaram o universo da psicóloga junguiana em sonhos ou mesmo na vida real. Ao estudar esses animais, ela observou várias semelhanças entre a loba e a mulher, principalmente no que se refere à dedicação aos filhos, ao companheiro e ao grupo. Ao longo do desenvolvimento da civilização, porém, esses instintos mais naturais – a que ela dá o nome de Mulher Selvagem – foram sendo domesticados, sufocando todo o potencial criativo da alma feminina.
Clarissa, analista junguiana e contadora de histórias, mostra neste livro como, a partir de mitos, contos de fadas, lendas de folclore e outras histórias escolhidas em 20 anos de pesquisa, a mulher pode se ligar novamente aos atributos saudáveis e instintivos do arquétipo da Mulher Selvagem”
É uma leitura simplesmente imperdível!
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.