Daniele Vilela Cardoso Leite*
Cada sistema familiar possui uma dinâmica própria e quando mudanças estão prestes a acontecer, a homeostase familiar fica comprometida. Homeostase é um termo da biologia que os estudiosos dos sistemas familiares usam para explicar a capacidade de adaptação interna das famílias.
Há uma tendência a querer que os papéis nunca mudem e que as estruturas fiquem enrijecidas, pois é mais seguro assim. Tudo isso acontece em termos inconscientes.
Mudanças assustam e ameaçam. Um novo membro na família é uma mudança muito grande e requer atenção por parte de seus membros. É natural que a chegada de um novo bebê à família traga insegurança, transformação, mudança nos papéis dentro do núcleo familiar.
No curso de Diagnóstico Infantil do Ciclo Ceap algumas orientações foram passadas para educadores, e compartilho com você, leitor: “É importante contar a seus filhos a respeito da iminente chegada de um bebê, antes que eles tenham a chance de ouvir as novas por meio de amigos ou parentes. Sem fazer alarde diga simplesmente: ?Nós vamos ter um novo bebê na família”.
Evite longos discursos tais como: “Você é tão bacana e adorável que decidimos ter outro exatamente como você”. E não diga a uma criança como se sentir. Por exemplo: ?Tenho certeza de que você amará o bebê e sentirá orgulho dele?. Dividir os pais com um recém-chegado sempre traz algum ressentimento às crianças jovens. Ajude-as a expressar seus sentimentos confusos dizendo algo como: “Ás vezes o bebê será ótimo. Em outros momentos irá chorar e precisar de muitos cuidados. Algumas vezes você poderá se sentir posto de lado e com ciúmes. Quando se sentir assim, venha e conte para mim. Então eu lhe darei mais carinho e você se sentirá bem novamente”.
Transmita confiança ao seu filho, dizendo-lhe que o novo bebê não irá substituí-lo. Que seu lugar na família está seguro. Caso haja alguma regressão e o mais velho se porte como um bebezinho os pais devem tolerar essa necessidade , pois a criança, ao se sentir segura, superará rapidamente essa fase. Aí estão algumas dicas: – Qualquer mudança necessária na rotina da criança mais velha deve ser feita bem antes da chegada do novo bebê . Caso você precise tirá-lo do berço, faça disso uma promoção, não um deslocamento. – Mantenha a criança mais velha em casa, em ambiente familiar, nos dias próximos ao nascimento. Não a mande para a casa de parentes. O melhor seria o pai tirar férias ou licença do trabalho e ficar em casa. – Não vá para o hospital sem se despedir da criança mais velha e conversar com ela sobre quanto tempo você levará para voltar. Mantenha-se em contato freqüente com ela, pelo telefone. Quando voltarem para casa, encoraje a criança a examinar o novo irmão. – Depois da chegada do bebê, a criança mais velha precisa ter, às vezes, a mãe e o pai só para ela. Faça com que ela tenha um tempo a sós com cada um de vocês. – Deixe o filho mais velho ajudar nos cuidados com o bebê, para que ele o sinta também como seu. Por exemplo, ele poderia ajudar a dar banho.
Essas dicas são apenas referências que podem ser úteis, mas cada caso é absolutamente singular e seguir a intuição de pais, ter um olhar atento e observador sobre os acontecimentos e uma postura de acordo com as observações é o melhor a ser feito. O que não é indicado é deixar de observar a reação dos filhos mais velhos, ou observar mas não pontuar, não tomar nenhuma atitude quanto à situação.
É preciso diálogo. Faz parte da natureza ter que dividir a atenção dos progenitores com a chegada de um irmão. Mas para muitos é um desafio doloroso demais. Por isso, o máximo de percepção torna-se necessário para que os pais possam ajudar os filhos nesse desafio. E quanto melhor for a superação dos ciúmes e dos sentimentos negativos, mais saudável emocionalmente para a criança, para o resto de sua vida…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.