Daniele Vilela Cardoso Leite*
Rancho Novo, povoado localizado em zona rural, a 7 km do município de Caeté. Povoado do Distrito da Penha, habita uma faixa de 220 famílias, aproximadamente 800 pessoas. Lugar de natureza rica e que nos áureos tempos da linha férrea apresentava um ritmo diferente do presente.
Rancho Novo hoje é um local que merece um olhar especial do povo caeteense, pois é repleto de limites e possibilidades, como tudo na vida. Possibilidades de transcendência aos desafios, transformação nas concepções e condições de vida, evolução. Limites no sentido de que falta uma economia de subsistência forte, o que compromete a evolução dos outros setores como culturais, sociais etc. O assistencialismo ao povo de Rancho Novo (doações de cestas básicas, entre outras doações do gênero) só ajuda na manutenção das dificuldades e não na transcendência delas.
A primeira conscientização de quem deseja realmente ajudar os moradores de Rancho Novo é a do não assistencialismo. Quaisquer comunidades que desejem evoluir precisam em primeiro lugar “serem protagonistas de ações concretas que os capacitem a vencer” o estado de privação de uma vida melhor, com ajuda externa.
É preciso ajudá-los na auto-estima. Lá existem pessoas interessantes. Quem conhece realmente de perto as pessoas do povoado sabe que há muita gente que quer e pode empregar sua força no mercado de trabalho, mas que por enquanto ainda são pouquíssimas as oportunidades. É preciso a união de vários setores, segmentos da sociedade civil, ONGs, entidades juntamente ao poder público.
Com a união e fortalecimento da rede sócio-assistencial, o prognóstico para que aconteçam mudanças é favorável, em qualquer lugar, e não é diferente no Rancho Novo. É importante que o povo de lá perceba sua força e poder. As transformações e evoluções nascem de dentro para fora, ou seja, da comunidade para o mundo externo. Mas com ajuda e canais para se chegar a esse “mundo externo” que são outras realidades sociais, culturais, econômicas. De dentro para fora. É ilusão achar que seja ao contrário.
Rancho Novo possui uma natureza deslumbrante. É um dos poucos lugares na região da Grande BH que a natureza possui longos trechos contínuos de mata preservada. A fauna e a flora são encantadoras. Passeando pela região podemos observar borboletas, patos, garças, gaviões, tucanos, aves das mais variadas espécies, macacos, esquilos, entre outros.
Um ar puro, um silêncio cortante, uma força natural indescritível, que pode ser observada por quem estiver atento, com percepção e sensibilidade para tanto (“as maravilhas do Universo são-nos reveladas à medida que tornamos capazes de percebê-las”). Este presente da bela paisagem e da forte energia o povo de Rancho Novo recebeu dos céus.
Muitos são os que plantam o próprio alimento, geralmente por necessidade, o que os leva a um grande contato com a terra, especial, forte. Quem possui a oportunidade de conviver no Rancho Novo sabe que são muitos os desafios, assim como muitas as possibilidades, para que mudanças aconteçam para melhor. Como tudo no Planeta. As possibilidades são infinitas, desde as micro às macro situações. Desde os pequenos aos grandes desafios. A vida é da ordem do surpreendente e as estruturas estão em constante mudança. Às vezes mais rápido, às vezes mais lentamente. Mas nada é estático, nada dura para sempre, e o que se vê é a necessidade e a possibilidade de transformações para melhor no Rancho Novo.
Ao povo de lá, desejo coragem, fé, persistência e esperança. E aos que puderem e quiserem fazer algo pela região, sigam em frente, pois, certamente, vale a pena…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.