Daniele Vilela Cardoso Leite*
Discursos moralistas não atingem o objetivo de esclarecer sobre os inúmeros malefícios do uso de drogas. O discurso deve ser outro, a visão sobre o assunto deve mudar o foco. Se há demanda de trabalhar e conscientizar os jovens dos problemas advindos do uso indiscriminado da droga, dizer “não pode, não faça” é uma forma que não impede uma pessoa de ingressar nesse tipo de prática. O discurso pedagógico atual é voltado para a premissa de que conduzir à reflexão e à postura crítica diante dos acontecimentos é a forma mais adequada de se trabalhar a questão. “Tá na Roda – Uma Conversa Sobre Drogas” é o título de um grande Projeto de parceria entre o Governo de Minas Gerais e a Fiat Automóveis, e concepção da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e Fundação Roberto Marinho. Esse Projeto foi criado especialmente para apoiar os educadores através de material propício a conduzir o jovem a refletir, discernir. È uma proposta educativa que tem como base os seguintes princípios: “ – Pretende fazer pensar, produzir reflexão e contribuir para a tomada de decisões, para o desenvolvimento da autonomia e do pensamento crítico. – Busca diferentes possibilidades de entender as questões das drogas e não respostas prontas e acabadas. – considera os indivíduos não como seres isolados, mas como integrantes de um meio social, incluindo-se aí o ambiente urbano ou rural, as diferenças entre as classes sociais, etnias e faixas etárias, as diversas condições econômicas, de segurança pública, etc. – Entende que a questão da droga envolve aspectos de ordem intelectual e afetiva. É preciso considerar os aspectos emocionais, as experiências e a história das pessoas, sem que isto signifique personalizar a discussão. – Considera que há vários usos possíveis de drogas, que vão desde a experimentação e o uso ocasional, até o uso problemático e a dependência. A abordagem do tema considera esta pluralidade de possibilidades. – Reconhece que a recomendação do não uso de drogas é muitas vezes irreal. Portanto o trabalho educativo deve buscar a aprendizagem de uma convivência crítica e autônoma com elas e não apenas a abstinência de toda e qualquer droga como preceito abstrato e ideal. Assim, cada indivíduo pode ter melhores condições de evitar as drogas ou pelo menos reduzir os danos que elas possam causar. – Adota o enfoque de redução de danos, em oposição à “guerra às drogas” , como uma postura mais realista e eficaz, uma vez que é praticamente impossível eliminar todas as drogas psicoativas da sociedade. – Reconhece que as drogas fazem parte de um contexto planetário, seja pela atuação de poderosos grupos multinacionais, seja pelo narcotráfico, que é uma das maiores forças políticas e econômicas do mundo. – Considera que não se trata apenas de fazer um trabalho sobre a adolescência e suas características, mas sobre as relações que os jovens estabelecem com as drogas.” Um clima de confiança e diálogo por meio de regras e acordos é indispensável para superar conflitos ocasionais.
Da mesma forma que existe o crime organizado, existem grupos organizados de força contrária. Pais, educadores, cidadãos, instituições, profissionais específicos dos órgãos federais, estaduais, municipais que compõe as Secretarias antidrogas, etc. Grandes empresas do Setor privado também já trabalham organizadamente através de Projetos que envolvem psicólogos, médicos, assistentes sociais, enfermeiros etc. A batalha ocorre de organização para organização, em extremos tão sutis que se perdem à visão da maioria dos indivíduos…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.