Daniele Vilela Cardoso Leite*
“As maravilhas do mundo são-nos reveladas
à medida que nos tornamos capazes de percebê-las”
Realmente, é uma questão de percepção. De acordo com as fases de desenvolvimento, a percepção se transforma e acontecem verdadeiros milagres. A criança percebe o mundo a seu modo, assim como o adolescente, o adulto, o idoso. É uma questão de amadurecimento. Por isso em várias culturas o idoso é muito ouvido e valorizado.
Em cada etapa a visão do mundo acontece de uma maneira. Conviver com todo esse universo heterogêneo demanda sabedoria. Para que as relações sejam de respeito é necessário muita disponibilidade interna, ou seja, intenção verdadeira de se colocar no lugar do outro, entendê-lo um pouco mais sem estar focado apenas em si mesmo e na própria realidade. Tem que haver os limites nas relações. Limites tanto em forma de leis judiciais quanto internos, psicológicos. Muitos adultos tratam as crianças como mini-adultos, o que gera mal entendidos e sérios problemas emocionais nas crianças. Às vezes alguém passa pelo mesmo caminho várias vezes durante anos e após todo esse tempo, num certo dia, descobre uma árvore, ou algum outro objeto antes nunca “visto”. Percebe-o muito depois de vê-lo.
Assim é em cada etapa da vida, e ocorre de maneira diferente com cada ser humano, de forma singular e pessoal. Podemos fazer um paralelo desse fato em relação à nossa mente inconsciente. A descoberta do inconsciente se assemelha em certo modo a questões sempre presentes, mas nunca percebidas e elaboradas na mente consciente. A percepção surge da disponibilidade interna de observar, do amadurecimento, da inteligência e possibilidade de cada um. E tal abertura determina o grau de envolvimento consigo mesmo e com o mundo ao redor, assim como a possibilidade de fazer escolhas mais adequadas e de maior sucesso. Em sala de aula, embora o professor ensine nas matérias subjetivas o mesmo conteúdo, não há como pensar que todos conseguem escutar da mesma maneira. Muito pelo contrário. Os professores bem sabem disso…
Lembremos também de que as inteligências são múltiplas e portanto a capacidade de absorção é bem variada. Muitos alunos especiais (crianças com patologias relativas ao aprendizado, entre outras deficiências) possuem dificuldades intelectuais, mas em termos afetivos (parte da inteligência emocional) são exemplo. Ao conviver junto a tais crianças percebe-se o quanto, devido a todos esses fatores, são infundados os preconceitos. As tendências de moda, a globalização, o tipo de vida das sociedades no tempo atual (comportamentos de massa) geram a sensação de que todos são muito iguais, quando, na realidade, são muito diferentes. A arte, poesia, cinema, cultura etc. refletem essa infinidade de possibilidades. A criatividade e a evolução vem daí.
Por tais fatores concluímos também o motivo da Psicologia ser uma ciência com bases extremamente catedráticas, mas absolutamente adaptáveis a cada ser. Não há receita. Há referências científicas que se adequam a cada situação. Enfim, a frase inicial, em negrito, revela a infinidade de possibilidades e descobertas temos para fazer vivendo nesse planeta. Quem se sente entediado pode mudar o ângulo de percepção e reparar o quanto há para aprender, perceber, observar, descobrir…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.