Daniele Vilela Cardoso Leite*
Fazendo um paralelo entre o nascer e o morrer, certa vez uma palestrante passou a nós que a escutávamos uma mensagem bonita e grandiosa. Dizia ela que morrer é como nascer. O bebê, quando está no ventre materno, sente-se seguro e protegido. É alimentado, está em um lugar quente e aconchegante. Tem muito medo ao ser expulso para este mundo.
Assim é com os adultos. Estamos aqui na Terra, seguros por estarmos em um lugar que conhecemos, e sentimos muito medo da expulsão para um lugar desconhecido. Ao sairmos deste mundo sabe-se lá para onde iremos.
No momento do nascimento, dizia a palestrante, o bebê não possui ainda inteligência para imaginar o quanto é bom e gratificante viver. Ele ainda não experimentou o lado bom da vida, não descobriu a linguagem, nem passava pela sua imaginação que um dia iria andar, dançar, conversar etc. E assim é também conosco. Não possuímos alcance para imaginar como é depois da morte. É um mistério. Devemos então viver o aqui e agora (carpe diem), ao invés de ficarmos procurando saber sobre algo que não está no momento de sabermos.
Lidar com o fato de ser mortal é o maior desafio para o homem. Apesar de ser algo que no corre-corre da vida as pessoas procurem não pensar, lá no inconsciente existe a verdade de que um dia iremos embora. Às vezes, a morte do outro choca profundamente porque vemos na morte dele a nossa própria, ou seja, quando vemos alguém passando por isso vem a tona a verdade que um dia iremos também. E diante do desconhecido é inevitável o medo, a sensação de perda, a insegurança, a dor.
Quando a morte acontece com um ente querido, muito amado, um dos fatores que proporciona força e ajuda a reerguer é a presença de pessoas amigas. Irmãos, pais, filhos, colegas, companheiros. Quando alguém na família parte para outro plano, o apoio mútuo dá força para suportar os sentimentos de perda.
As obrigações, os compromissos mantém as pessoas de pé e as impulsiona a continuar sua caminhada neste mundo. Passa-se por um processo de recuperação e reconstrução de valores e de sentido de vida, e é importante sabermos que cada um possui o seu específico tempo de vivenciar este processo.
Outro fator importantíssimo é, diante de um fato desses, não haver uma reação de reprimir as emoções, pois enquanto elas não forem expressas através do choro, do desabafo e do reconhecimento de que a fase é difícil, a pessoa não conseguirá retomar um bom caminho em sua vida. O indivíduo tem que tentar ser forte e reagir, mas só depois de ter chorado, vivenciado e admitido seus sentimentos.
Saber que outros passaram por tudo isso e “deram conta”, também traz esperança, força, luz. Para exemplificar este fato, o depoimento de Feiga Grunspun, que perdeu uma de suas três filhas há onze anos. Ao perder sua filha, ela viveu uma das experiências mais dolorosas para o ser humano. “O luto nos envolveu como uma nuvem negra que toldava nossa visão para todos os elementos da vida. Aos poucos, fomos emergindo da dor, recuperando as forças vitais. Hoje, é possível falar de Sandra sem que isso nos faça sofrer. Ela continua presente em nossa vida, mas sua presença não traz depressão nem desespero, apenas saudades e lembranças boas”.
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.