Daniele Vilela Cardoso Leite*
Vergonha de falar em público, dificuldade de se expressar, de se manifestar diante de um grupo de pessoas. Medo de tentar conquistar o seu objeto de desejo, medo de se expor ao ridículo, de se sentir rejeitado.
Estes são alguns dos sentimentos que paralisam um indivíduo e o fazem tornar-se calado, passivo, amedrontado, não assertivo e carregar diante de si e dos demais o rótulo de tímido.
A timidez reflete um grande medo de não ser aceito pelo outro, e por isso passa pelo viés da insegurança. A timidez leva à introversão. É nítida a diferença entre o extrovertido e o introvertido quando em um grupo de pessoas o extrovertido fala o que pensa, sem preocupar-se com o que os outros acharão de suas palavras, enquanto o introvertido pensa e repensa o que vai dizer, e então acaba por não falar nada.
Socialmente, dizer “sou tímido” é mais aceitável que assumir “sou inseguro”. Como a timidez reflete o medo de se expor e não ser aceito, o indivíduo vai perdendo chances de conhecer pessoas, crescer profissionalmente, ampliar seus horizontes, e até mesmo descobrir os seus próprios valores, pois o tímido geralmente não arrisca e não permite provar a si e ao mundo as suas potencialidades. Pessoas com qualidades e que por medo do pensamento do outro, não enxergam e nem permitem que os outros vejam seus pontos positivos.
Mas nem tudo está perdido! A vida nos oferece a cada instante a opção de desejarmos nos aperfeiçoar, nos melhorar. Para isso é necessário primeiro deixar vir à tona, aflorar, reconhecer que existe uma situação de insegurança que prejudica, impede o crescimento. Mas não basta apenas o reconhecimento. É preciso que, apesar do medo, exista a vontade de mudar e melhorar. A partir disso, já não há mais como ser a mesma pessoa.
À medida que o indivíduo consegue vivenciar uma situação em que se expressa com sucesso e depois outra, e mais outra e assim sucessivamente, vai criando coragem e arriscando mais, e percebe que acertos e erros ocorrem todo o tempo, e vai enxergando suas potencialidades, se permitindo ser.
A sociabilidade vai aumentando à medida que o sujeito se permite “experimentar o mundo.” O tímido reprime o seu dinamismo e desta maneira canaliza suas energias apenas para o seu interior mas, quando consegue quebrar este ciclo, passa a confiar mais em si, ver melhor suas potencialidades. Experiencia às vezes situações não tão bem sucedidas e percebe que isto faz parte da vida. Vamos frustrar e seremos frustrados pelo outro. Isto é inevitável e faz parte do convívio humano.
Vencer a timidez implica em vencer problemas de auto-estima e expectativa do outro, por isso é tão complexo. Somos frutos do inconsciente, e a timidez vem de heranças genético-hereditárias, dos valores e padrões impostos pelos pais e pela sociedade (seja bondoso!; não faça o que o outro não deseja!; vou gostar de você apenas se fizer tudo que eu disser! etc.). E pela carga pessoal que o indivíduo recebe essa influência genética e do meio em que vive.
Mas ainda assim temos, só por estarmos vivos, as chances de fazer de outra maneira. Para isso precisamos uns dos outros, pois as possibilidades de crescermos e construirmos uma história de vida diferente passa necessariamente pelo outro. Este é um dos grandes desafios e fascínios da vida!
” Paixão é artigo de primeira necessidade na cesta básica da vida – da vida vivida até as últimas consequências.
“Se pouca, é sinal de vida morna, sem riscos de incêndio ou tempestade, dias sempre os mesmos e noites vazias, ritual de tédio e morte em troca de segurança.
“Se grande, é marca de sofrimento e êxtase, lucidez e loucura, amor e ódio e todos os opostos juntos e ao mesmo tempo unidos pela terra, pelo ar, pela água e pelo fogo – diabolicamente Divino – que transforma em chama ardente a breve aragem que a vida é e faz o peso da carga ser suave e o cansaço um puro prazer.
“Vai e enche de paixão os vazios que ficam de se ser sozinho no mundo, vai e tece com paixão a rede que abriga e aquece as pessoas, as coisas e as relações, que tudo na vida é paixão – na vida comprometida com o de mais humano que nela há.” (Geraldo Eustáquio de Souza)
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.