Daniele Vilela Cardoso Leite*
Viver em comunidade é relacionar, conviver, ter contato social, interpessoal. É a partir das relações construídas e experienciadas consigo mesmo e com os demais que o fio que tece o sujeito se desenvolve, cresce e frutifica produzindo a construção de cada personalidade.
Precisamos uns dos outros. No espelho dos outros que vemos a nós mesmos. A amizade é fruto da construção do relacionamento. É saudável, é necessária, é uma “ferramenta” e não a exclusão delas. Quando há a tentativa de fusão de pensamentos não há liberdade. Há, sim, dependência. Deve-se tomar cuidado também com amizades que se caracterizam por excluir outras pessoas. Esse é um perigo que ronda os indivíduos muito fechados, que têm medo de se relacionar.
Para certas pessoas é tentadora a possibilidade de se relacionar apenas com aquele melhor amigo, e excluir o resto das possibilidades de novos amigos. Assim, fecham portas. É importante a consciência de que podemos construir vários tipos de amizade ao longo da vida. E quanto mais abertos, mais rico será o nosso crescimento. Com cada um deles podemos aprender mais e mais. Há os amigos que conversamos todos os dias, os que raramente vemos, os que às vezes nos mandam notícias…
Outra situação a ser observada é que uma possível desilusão com uma amizade não significa necessariamente que isso vá sempre acontecer, se repetir. Pensar e agir assim é uma forma de também fechar a possibilidade de viver maravilhas. A amizade é importante e preciosa em todas as faixas etárias. A necessidade de relacionar-se com o outro começa na infância e se desenvolverá sadiamente se houver ajuda e compreensão dos adultos.
Nessa fase acontece a primeira experiência e é importante os pais saberem que alguns demoram mais que outros para se socializar e fazer amizades. E os pais não devem salientar as dificuldades, pois assim pode gerar ansiedade na criança. Cabe aos pais estimular, chamando os colegas de seus filhos para lanchar, para passear, valorizar esse aspecto, respeitando o ritmo do filho, mas também estimulando , levando outras crianças para os vários lugares e permitindo que o filho também infiltre e se relacione em outros núcleos familiares que sejam de pais conhecidos. Os pais abertos às possibilidades de amizades são grandes espelhos para os filhos.
Amizade é comunicabilidade recíproca. É uma troca básica de expressão. Mas deve ser sempre vivida com libertação. Principalmente na fase da adolescência, muitos indivíduos se identificam por suas dores e um alimenta e salienta ainda mais o sofrimento do outro. Isso não é amizade. É dependência, é atraso de vida.
Viver é relacionar-se. E quanto mais nos aprimorarmos na arte de relacionar-nos, melhor. As relações nos ajudam a trabalhar nossas emoções, nossas necessidades afetivas, lúdicas e de compartilhar. Com os amigos falamos de nossas alegrias e tristezas, e nos tornamos companheiros de estrada pelos caminhos que surgem ao longo da imprevisibilidade do tempo. Que estejamos cada vez mais aptos a nos relacionar, aceitando os nossos limites e possibilidades, assim como os dos outros, para assim construirmos relações de amizade saudáveis e prazerosas.
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.